A MARINA da vez...
Ontem assisti a um programa na rede Globo News onde a discussão pairava sobre a espantosa ascensão da candidata Marina Silva no pleito relativo ao primeiro turno das eleições deste ano. A perplexidade se deve à derrocada iminente do conceito estatístico que até então tinha mostrado alguma coerência em eleições anteriores, visto que as pesquisas quase sempre ficaram dentro das margens de erros e acertos. Os institutos de pesquisas se justificam e tentam explicar as razões para terem errado tanto nesse pleito. Os técnicos das áreas de estatísticas tentam rebuscar nas entrelinhas todas as razões para terem dado um chute no escuro.
A grande indagação que ficou no ar foi: Qual a razão da votação expressiva de Marina Silva, quando nenhuma pesquisa de opinião conseguiu captar sua evolução na reta final do pleito? A especulação mais fluente sobre a questão emana das declarações desastrosas da candidata Dilma no que se refere à sua opinião sobre o aborto, tanto é assim que a própria candidata depois que viu a perda do fôlego no primeiro turno, depois de observada a catástrofe da sua declaração, em face dos números mostrados nas urnas, passou a fazer justificativas na tentativa de corrigir uma cicatriz que deixou marcas e que só poderá dissipar-se com corretivos cirúrgicos que, como sabemos, necessitam de tempo para reparar a lesão. Assim, seus assessores correm atrás dos discursos imediatistas, investigando sobre qual seria a forma mágica de reparar o estrago.
O fato é que a população de hoje tem em mente dois aspectos de comportamento que se não forem observados, podem levar um candidato ou uma candidata à derrota quase certa: o meio ambiente e a religião (ou crença). Aliás, costumo dizer que em política ninguém perde e ninguém ganha, pois não se trata de um jogo. Assim, há os candidatos que se elegem e os que não se elegem. Dentro dessa assertiva, não há aquele que ganha ou aquele que perde, até porque nem sempre o eleitor ganha, considerando que boa parte dos candidatos é que acabam ganhando o poder e o utilizam como acham convenientes, por entender que o voto é apenas um corredor por onde se passa; para poder encontrar uma porta aberta para o sucesso.
Mas, voltando aos dois vértices do fenômeno eleitoral do primeiro turno, não tenho dúvida em dizer que Marina Silva teve significativa votação na reta final da eleição do primeiro turno por reunir esses dois perfis acima citados. Trata-se, pois, de uma pessoa religiosa que se porta como tal e que foi incisiva em afirmar que era contra (radicalmente), qualquer discussão sobre o aborto. Isso lhe deu expressiva dianteira sobre a candidata do PT, que vociferava frases envolvendo desafios às crenças das pessoas, quando divulgado na internet a expressão de que mesmo Jesus não lhe retirava a vitória no primeiro turno. Se isso é verídico ou não, pouco importa; afinal tudo já aconteceu e ninguém teve tempo de chegar à mídia e explicar que tal frase não foi pronunciada, ou foi mal interpretada.
De mais a mais, o Brasil é cheio de eleitores bem esclarecidos e que não pactuam com o discurso bipolar dos dois principais candidatos; o José Serra e a Dilma, pois se de um lado há esta última pretendendo manter-se incólume de todas as mazelas existentes no atual Governo (que todos conhecemos), de outro, há o primeiro, que, sabendo-se detentor da simpatia das camadas sociais mais abastadas e, com sede de retornar ao poder – mesma corrente política de Fernando Henrique Cardoso – dirige seguidos impropérios à situação, utilizando-se da rede nacional de computadores, trazendo uma “chuva” de e-mails degenerativos do poder (o que não é difícil em face das inúmeras denúncias contra o PT), para desmoralizar o atual Governo e, assim, retomar o poder para, talvez, voltar a desvalorizar o poder do trabalho, como feito por aqueles que governaram o país antes da entrada do PT.
Esse vácuo existente entre essas duas correntes ‘enferrujadas’ é que – a meu ver - ocasionou a surpresa eleitoral e que se abrigou na candidatura de Marina Silva, pois o eleitor mais esclarecido não poderia cair nessa lorota propalada pelos lados mais polpudos da contingência eleitoral do primeiro turno. O universo dos indecisos (nas pesquisas) - que acabaram votando em Marina Silva - está refletido naquelas pessoas que convivem com os Templos e que estão nas Universidades e nos meios artísticos mais intelectualizados. Tanto a Igreja Católica como as Evangélicas (de uma forma geral), abominam esses discursos que favorecem o aborto. Nessa linha de entendimento, cite-se, ainda, a origem ambiental que aliava a candidata do PV à discussão mais séria e mais envolvente da atualidade, que é reatar compromissos expressivos para preservação e recuperação da nossa fauna e flora. Mas tudo isso acabou, agora não existe mais Marina Silva para concorrer. Para onde irá esse eleitor.
Diria Carlos Drummond de Andrade: - E agora, José? A festa acabou; a luz apagou; a noite esfriou; o povo sumiu; e agora, José? Você que é sem nome; que zomba dos outros; você que faz versos; que ama protesta; e agora, José? (...) Com a chave na mão; quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora?