Dor crônica
  
Águida Hettwer
 
 Quando o amor corresponde ás expectativas reunidas em fileiras, a vida passa em alegoria fazendo festa a nossa frente. Feita uma gestação amorosa, onde concebe e se cria com todo carinho aquele sentimento que cresce a cada dia. O riso aflora fácil entre os lábios, o coração pulsa acelerado, e deslumbrados um com o outro, a palavra “defeito” parece-nos bem-feitos e moldados a nossa imagem e semelhança.
 
 Entretanto, os dias correm trazendo tempo emburrado e tempestuoso. A rotina morna e insossa, onde inconscientemente nos remete, perde-se o brilho, não há interesse de conquista, as palavras perdem o entusiasmo, o lábio, foge dos beijos, a pele avessa às carícias. O tom de voz altera, o humor dá lugar ao rancor.
 
   O que ouve?- Conclama a voz da consciência. Onde foram parar os sonhos constituídos, os planos bem alicerçados, as trocas de juras eternas. Por um momento nos esquecemos, que os elogios, não pedem férias, o incentivo não deu aviso prévio, as cobranças sem fundamento, embrulham o estômago. E a pele se acostuma com a falta de afeto.
 
 No amor, ele pede cuidado redobrado, o desleixo, não combinada nem em numero e grau. A conquista pede alas, num simples recado, num e-mail, num papel rabiscado, numa flor colhida as pressas, no abraço curador de qualquer coisa encravada na alma.
 
     Ás vezes os gritos de “socorro”, estão permeados no silêncio, em olhares parados, pensativos no tempo. O corpo tem uma inquietude, um mal curado, uma dor crônica, um vazio de tudo e de todos, em volta, um mundo conturbado.
Sente uma profunda solidão, mesmo acumulado em multidões.
 
     Contudo, a vida lateja por uma mudança, uma limpeza dos poros, o ego, exige autoconfiança. Em arrancar as raízes mortas, varrer os cacos de lembranças, sacudir a poeira do comodismo, dar cor, vida e brilho na morada interior.
 
    Há novas perspectivas, novos conceitos e prioridades. No grande palco da existência, a platéia almeja o novo espetáculo. Nos bastidores, somos palhaços, rindo dos erros, bailarinas, dançando na melodia do tempo, malabaristas, equilibrando as emoções, veste-se a mascara, os holofotes, anunciam que o espetáculo apenas começou.
 
...Não vivemos o bastante, para aprender tudo, decifrar todos os enigmas, sermos perfeitos. Entretanto, na arte de viver... ”Viramos-nos nos trinta”. Somos caras e bocas, riso, choro, coração pulsando! A felicidade é uma escalada longa e de difícil acesso, só os que amam se sujeitam.
 
 
                                                 08.10.2010