BIGODE, PRA QUE TE QUERO?
Sendo tão difícil ordenar e conduzir nossas mudanças comportamentais, as do caráter propriamente nem se fala. Por outro lado, o mesmo não se pode afirmar das mudanças da aparência. O mundo moderno acolhe-as por todos os lados. Hoje, o homem pode se renovar externamente com a ajuda de mil e um artifícios oferecidos à sua mão.
Eu busquei mudar-me. Não sei dizer o que acontece, mas, às vezes, a gente parece cansar da própria estampa batida repetidamente no espelho. É sempre a mesma coisa. Foi aí que resolvi mudar. E, para tanto, não recorri a nenhuma fórmula especial ou artifícios oferecidos. Se havia de mudar que fosse com as minhas próprias mãos e meus próprios meios. Daí, lançar mão do bom e arcaico bigode!
Com os dias se passando, os pêlos também foram com eles aflorando, junto as primeiras observações. “Uai, pai, tá deixando bigode?” “Tô!” Respondia secamente, sabendo de antemão das críticas.
Já o público externo, meticuloso, a princípio olhava e sorria apenas. Enfim, entre pêlo e apelos compus meu esperado bigode. Nada de espalhafatoso como Dali ou “honorável” tal o do senador; não chegava perto do ridículo bigodinho de Hitler, tampouco comedido à Clark Gable. O meu era o meu. Indefectível, eu diria.
Engraçado, eu nunca usara bigode. E num é que o danado muda a gente mesmo? “Te envelheceu dez anos!” dizia a mulher. “Parece que engoliu uma bicicleta e deixou o guidom de fora!” fazia coro o cunhado. “Ah, não, pai!... Sem isso!” acompanhava a filha. Era essa ladainha perpétua todo dia!
“Não tiro!” Fiz do bigode um bastião da minha resistência às implicações familiares.
Passou um mês, dois, e...
Certo dia, ao beijar as duas pequenas netas, percebi a repulsa nas duas se esquivando do contato dos pêlos. Quando não, levavam a mãozinha no local do beijo insinuando coçar o rosto. Bom, se não eram assim, foram maquiavelicamente instruídas. Que seja.
Alguém foi muito feliz em dizer que os netos são nossos filhos adocicados e eu, mesmo diabético recente, jamais poderia ficar sem tocar nessas doces ambrosias.
Raspei-o. Eis-me, então, novamente, com a minha velha cara lambida.
Sendo tão difícil ordenar e conduzir nossas mudanças comportamentais, as do caráter propriamente nem se fala. Por outro lado, o mesmo não se pode afirmar das mudanças da aparência. O mundo moderno acolhe-as por todos os lados. Hoje, o homem pode se renovar externamente com a ajuda de mil e um artifícios oferecidos à sua mão.
Eu busquei mudar-me. Não sei dizer o que acontece, mas, às vezes, a gente parece cansar da própria estampa batida repetidamente no espelho. É sempre a mesma coisa. Foi aí que resolvi mudar. E, para tanto, não recorri a nenhuma fórmula especial ou artifícios oferecidos. Se havia de mudar que fosse com as minhas próprias mãos e meus próprios meios. Daí, lançar mão do bom e arcaico bigode!
Com os dias se passando, os pêlos também foram com eles aflorando, junto as primeiras observações. “Uai, pai, tá deixando bigode?” “Tô!” Respondia secamente, sabendo de antemão das críticas.
Já o público externo, meticuloso, a princípio olhava e sorria apenas. Enfim, entre pêlo e apelos compus meu esperado bigode. Nada de espalhafatoso como Dali ou “honorável” tal o do senador; não chegava perto do ridículo bigodinho de Hitler, tampouco comedido à Clark Gable. O meu era o meu. Indefectível, eu diria.
Engraçado, eu nunca usara bigode. E num é que o danado muda a gente mesmo? “Te envelheceu dez anos!” dizia a mulher. “Parece que engoliu uma bicicleta e deixou o guidom de fora!” fazia coro o cunhado. “Ah, não, pai!... Sem isso!” acompanhava a filha. Era essa ladainha perpétua todo dia!
“Não tiro!” Fiz do bigode um bastião da minha resistência às implicações familiares.
Passou um mês, dois, e...
Certo dia, ao beijar as duas pequenas netas, percebi a repulsa nas duas se esquivando do contato dos pêlos. Quando não, levavam a mãozinha no local do beijo insinuando coçar o rosto. Bom, se não eram assim, foram maquiavelicamente instruídas. Que seja.
Alguém foi muito feliz em dizer que os netos são nossos filhos adocicados e eu, mesmo diabético recente, jamais poderia ficar sem tocar nessas doces ambrosias.
Raspei-o. Eis-me, então, novamente, com a minha velha cara lambida.