Adolescentes...
Dificilmente as pessoas assumem o comportamento e as atitudes da adolescência, período de instabilidade emocional e busca da identidade.
Quando minha filha tinha seus 14 ou 15 anos, sair com ela na rua exigia algum cuidado. De tudo ela tinha vergonha. Da roupa que ela usava. Da roupa que eu usava. Do cabelo, de uma espinha minúscula e até dos calçados, que precisavam estar de acordo com o modelo e a marca da moda. Chamá-la pelo nome em público, ainda que fosse baixinho, nem pensar! Ela acreditava que o mundo todo nos ouvia. Numa ocasião, nos encontrávamos em uma grande festa. Salão enorme, música ao vivo, um barulho infernal! Chamei-a pelo nome, quase sussurrando e ela ficou furiosa. Aquela gente toda ouvido chamar o nome dela! Comentar com um vendedor sobre o preço salgado? Que vergonha! Reclamar, por mais educada que fosse, era um mico inaceitável. Não chegou ao extremo de proibir-me de levá-la para as festas, como fazia a maioria de suas amiguinhas, mas tudo o mais tinha lá suas dificuldades.
Hoje, já adulta e independente, pode-se dizer que os papéis foram trocados. Quem critica e fala mais alto, se necessário, é ela. Reclama, chama o gerente e reclama de novo, telefona para o SAC, agita meio mundo. E geralmente consegue o que quer. Nunca deixa de lutar pelas causas que considera justas. Já eu, mais serena, me recolhi um pouco. Provavelmente porque agora tenho alguém que brigue por mim. Limito-me a tentar acalmá-la, quando penso que está passando dos limites. E não adianta dizer que ela fazia tudo ao contrário no passado. Ela simplesmente não acredita.
–Está louca mãe? Eu seria incapaz de fazer uma bobagem destas. Imagina que eu iria dizer isto. De jeito nenhum!
Um dia, numa daquelas faxinas que se faz de vez em quando, encontrei a prova do crime: uma fita gravada com um show do New Kids on the Blocks, um grupo de garotos que cantava pouco e rebolava muito, que as meninas da época amavam. Naturalmente que ela negou.
–Está louca, mãe. Eu nunca gostei dessas coisas.
Mas eu lembrava perfeitamente de vê-la, com as amiguinhas, assistindo ao show, e o que é pior, dançando com a música dos meninos que rebolavam.
– Então quem gravou? De quem é a fita?
– Sei lá... Alguém esqueceu aí.
–Então tá!
Um dia, a danadinha me saiu com esta conversa.
– Então mãe, fã do Ronnie Von?
–Eeeeeeeu? –Claro que não!De onde saiu isto?
– O tio me contou. E tem mais. Disse que na parede da casa tinha uma foto enorme dele, com longos cabelos lisos penteados para o lado.
– Esqueça filha. O tio está louco!
(Texto publicado no livro Salva-vidas Crônicas de oficina, organizado por Fabricio Carpinejar. Porto Alegre;Nova Prova;2009)