Meu terceiro dia na Capital Federal começou aparentemente de forma bem simples, mas nem tanto. Com uma onda de calor crescente, onde eu já suava a bicas logo de manhãzinha.
 
Eu e Mano fomos almoçar em um típico boteco. Em uma rua pouco movimentada e afastada das grandes avenidas, o bar tem mesas espalhadas pela calçada e garrafas de cachaça, vermute, martiny, contini entre outras coisas amontoadas pelo balcão.
 
Em seu pequeno salão escuro, cheio de mesas antigas de bar, espalham-se pessoas de todas as classes sociais. O Bar do Amigão, como é chamado, representa toda a ideologia socialista, onde pessoas tão diferentes comungam o mesmo ambiente e a comida retirada da mesma panela. Vi alguns dos grandes homens de negócios da nossa nação, com seus ternos caros e gravatas importadas comendo lado a lado, apoiados no balcão mesmo, com pedreiros de mãos calejadas e camisetas baratas.
 
Enquanto sentávamos em uma das mesas no fundo do bar, eu me perguntava o que tinha naquele lugar para que pessoas tão diferentes se sentissem tão iguais. E logo descobri.
 
Pedimos um prato de joelho de porco defumado e prato feito, isso mesmo leitor, prato feito de carne moída. O som reinante no salão era de festa e amizade enquanto algumas conversas de futebol e política espocavam em alguns cantos, e minha dúvida ainda me assolava a cabeça até que chegaram nossos pratos.
 
O imenso joelho de porco circulado por batatas cozidas simplesmente dançava na minha boca, perfazendo uma experiência notável de sabor e textura, enquanto o combinado de arroz, feijão e carne moída, como nossas avós costumavam fazer nos dias de antigamente, estava sublime.
 
O tempero único dos pratos, e o esmero na cozinha eram o diferencial daquele boteco de uma portinha que, ao contrario dos grandes restaurantes cujo sabor não é nem tão notável, serve o PF a míseros sete reais.
 
Depois de comer muito além da cota, fomos para nossa programada visita à Praça dos Três Poderes, onde se localiza do Congresso Nacional.
 
Sob um sol de escaldar, entramos no pequeno museu que se localiza no subsolo da praça e que conta com uma maquete gigante e bastante detalhada da cidade de Brasilia, bem como réplicas dos documentos originais que iniciaram a construção da nova Capital Federal, na década de 1950.
 
Para aumentar ainda mais meu interesse pelos mistérios que circundam essa cidade, tanto a maquete como as plantas originais estão cheias de pirâmides e triângulos, formas estranhas que certamente possuem significados além do que nossos olhos já conseguiram ver.
 
Cheguei ao apartamento para um breve descanso no exato momento em que o sol implacável dava lugar a algumas nuvens e o som forte de trovões começou a soar no Planalto Central. E uma chuva magnífica coroou o soninho da tarde e refrescou essa terra insuportavelmente quente.
 
Quando caiu a noite, fomos para a visita que eu mais esperava nessa viagem. Em uma das inúmeras esquinas de Brasilia, localiza-se uma taberna medieval que possui não somente decoração épica, mas também música, comida e bebida típicas da Idade Média.
 
O local se chama Mittelalter e em suas paredes de pedra e teto baixo de madeira, fomos atendidos pelo taberneiro elegantemente trajado com um gibão verde e calças e botas pretas, que nos levou a uma das mesas com bancos de madeira crua.
 
Pedimos um banquete típico e nos serviram Hidromel, uma bebida arcaica feita à base da fervura de mel novo com água e misturada com especiarias. O Hidromel, com seu gosto adocicado e sua coloração amarelada, era considerado a bebida preferida dos deuses vikings de foi bastante apreciado desde a Grécia Antiga até o final da Idade Média.
 
Quando chegou nosso banquete, com salsichão branco, croquetes, rosbife, purê de batatas e cortes de frango, pedimos cerveja artesanal feita com receita medieval e mergulhamos na comida, quase como se fazia na época dos Cavaleiros, mas usando talheres ao invés das mãos nos pratos de barro.
 
Em seguida, artistas começaram a tocar, usando violino e violão folk, canções medievais que, com seu toque alegre e épico, me levou a lugares que eu somente tinha visitado antes em pensamento.
 
Não sei bem como a noite terminou, pois minha visão já estava turva com as tantas canecas de cerveja consumidas quando o Mano se levantou para irmos embora. Espero que ele tenha pago a conta, pois eu não paguei...
 
Fábio Codogno
Enviado por Fábio Codogno em 07/10/2010
Código do texto: T2542787
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