LEMBRANÇAS DE UM FILHO IMAGINÁRIO

Dizem que ouve um dia em que ele não se conteve, atirou tudo para o alto. Tirou da adega o vinho mais especial, escolheu taça, sentou-se no quintal. Um cão lhe fez companhia enquanto ele se deliciava com o licor dos deuses. Bebeu até que as pernas ficaram moles. Já era noite quando saiu e perambulou pelas ruas...no peito uma saudade de um ser, que ele jurava conhecer. Andou, naquela noite andou muito. Parou no meio da praça e olhou para o céu como se procurasse um sorriso que há muito havia perdido...imaginopu os olhinhos parecidos com o seus, as mãos, a cor da pele...Quem passou por lá o viu gargalhar e abrir os braços como se abraçasse alguém, e assim ficou por longo tempo. Podia sentir voz pequenina, mãos pequenas no meio das suas, os pezinhos...Chorou copiosamente e põs a culpa no vinho - Sim, o vinho e ele me abre portas que eu não devia abrir, sentir saudades que não devia sentir. Sabia que nesta existência esta necessidade e desejos não seriam saciados, mesmo assim gritou como se culpasse alguém ou algo e por um momento calou-se, pois sabia que era preciso merecimento e no fundo não se sentia merecedor. Abraçou a garrafa com o resto de vinho. A igrejinha do bairro chamava todos para a missa do galo. O cão fiel pareceu saudá-lo pela data. Abraçou o animal e adormeceu.