O Vício da Telinha


Me perguntaram o que a TV mudou na minha vida. E eu pergunto... Havia vida antes da televisão?
Os mais antigos garantem que sim, mas não gravaram em vídeo para provar.
Eu, por exemplo, cheguei em casa praticamente junto com ela. Nossa! Não houve ninguém mais paparicado neste mundo, era o centro das atenções. Felizmente, nos comerciais, sobrava um tempinho para cuidarem de mim também.
Não me queixo. Acabei me tornando auto-suficiente muito cedo. Com nove meses já andava, com dez esquentava minha própria mamadeira.
Só demorei um pouco mais a falar, pois sempre que eu tentava, me mandavam calar para não atrapalhar o noticiário.
Com o tempo, também eu aprendi a amá-la. Havia o Vila Sésamo, os desenhos animados, os enlatados americanos, os programas de auditório, as novelas mexicanas... Pensando bem, foi aí que passei a odiá-la.
Depois chegamos a um relacionamento mais estável, sem grandes paixões. Ela lá, eu no sofá, assistindo.
Até que surgiu a TV a cabo e, de repente, não havia mais nada que prestasse nos seis canais da TV aberta. Contratamos logo o serviço. Sessenta canais! Para chegar à conclusão que não havia nada que prestasse neles tampouco.
Por outro lado, agora há sessenta e seis canais por onde passear via controle remoto, o que de certa forma, mantém a gente ocupado.
Tão ocupado que a coisa nos domina por inteiro, como um vício, que nos mantém escravizados, plantados ali em frente a ela, inúteis.
Mas, este vício, eu tenho vencido aos poucos. Sei que logo ficarei liberta dele.
E agora tenho um forte aliado para isso: o computador.


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Texto escrito para o 6° Desafio Literário da Câmara dos Deputados - Etapa 2.
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