Eleição de Tiririca

"O Brasil não é para principiantes".

(Antônio Carlos Jobim).

Em uma manifestação de inconformismo do eleitorado com a classe política que se apresenta, foi eleito com expressivos 1.300.000 votos o comediante Tiririca para o cargo de Deputado Federal pelo estado de São Paulo.

Nada tenho contra a pessoa do Sr. Francisco Everardo Oliveira Silva, mas é preocupante a eleição de uma pessoa despreparada para cargo tão relevante.

O fato de ser comediante, por si só, não o desqualifica para o pleito eleitoral. Mas, o despreparo do mesmo, que sequer sabia quais são as atribuições de um Deputado Federal, era tão explícito que sua eleição só pode ser considerada um manifesto, um protesto com a política então vigente. Não bastasse ser Tiririca, para utilizar uma expressão de Bertolt Brecht, um analfabeto político, ele corre o risco de não tomar posse, uma vez que o Parquet paulista ingressou com ação de impugnação de sua candidatura, alegando ser o mesmo analfabeto.

É certo que a classe política brasileira nunca gozou muita confiança por parte do povo, mas a que ponto chegou a política em nosso país! Se outrora ponteavam nos púlpitos do Parlamento um Rui Barbosa, um Prudente de Morares, um Prado Kelly, um Barbosa Lima Sobrinho, um Ulisses Guimarães, um Ramez Thebet; hoje assistimos ao espetáculo deprimente de candidatos despreparados serem eleitos.

E parece que nossos políticos estão, com o passar do tempo, mais despreparados quer cultural, moral ou mesmo politicamente.

Nosso povo que, durante mais de duas décadas clamava pelo direito de votar, quando o conseguiu viu que as opções eram decepcionantes. Tanto isto é verdade que da profusão de candidatos à Presidência da República na eleição de 1989, o povo escolheu um, até então, desconhecido dos grandes centros e que se revelou em uma escolha desastrosa: Fernando Collor de Mello, o qual, uma vez no poder, confiscou a poupança dos brasileiros e, por quizilas com seu irmão, foi descoberto todo um esquema de corrupção, cujo desfecho foi o impeachment.

Isto para ficar em um só exemplo, sem ser preciso citar a "pasta rosa", o escândalo da SUDAM, as privatizações, o mensalão, etc, etc, etc.

Mas este protesto, ou seja, a eleição de Tiririca, não foi pioneiro. Em outras eleições já foram votados o Macaco Tião, o Bode, dentre outros personagens que enriqueceram o folclore eleitoral.

Claro que pior do que este manifesto é a eleição dos "ficha suja" que podem, também, perder o mandato eleitoral caso o STF os julguem inelegíveis. Mas, se queremos candidatos à altura das nossas expectativas, não podemos concordar com o despreparo dos candidatos, não importa em que aspecto se apresente este despreparo (moral, cultural, político, etc).

Em conclusão, cito Robert Louis Stevenson, para quem: "A política é talvez a única profissão para a qual se pensa que não é precisa nenhuma preparação."

(Danclads Lins de Andrade).

Danclads
Enviado por Danclads em 05/10/2010
Reeditado em 06/10/2010
Código do texto: T2540078
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