Quinta das Paineiras, Vila Prudente
25/09/2009 22:30 - Maria Alice Zocchio
"... Devem haver aí as lembranças da Quinta das Paineiras que você se referiu em um comentário no meu texto sobre o Hino. Morei muitos anos na Vila Zelina e achei interessante a coincidência,mas não comentei naquela ocasião."
Há sim, Maria Alice.
Por que só agora, passado tanto tempo, achei de escrever a respeito ? É que nesse tempo todo eu buscava a inspiração que fizesse juz às minhas próprias lembranças. Desisti e resolvi arriscar assim mesmo:
Era uma outra época em que eu, menino, às vezes ia a São Paulo acompanhando o pai, que ia buscar cortes de calça (ainda se faz calças em alfaiates ou costureiras?). O pai, aposentado da falecida Mogiana, tinha múltiplas atividades para equilibrar todos os pratos como o Chinês do circo. Essa era apenas uma delas: comerciante de tecidos.
Lembro da placa que era motivo de desconfiança na estação de Campinas: "trens para o interior", da infalível Crush e da paisagem apressada pela janela. Estação da Luz. Trem de subúrbio da Santos-Jundiai. Bras, Mooca, Ipiranga. Daquela caminhada pelos campos de futebol de traves retangulares, da passagem pela favela sem qualquer cuidado e da chegada à Rua Paraibuna não lembro o número mas como lembro da casa... A Tia Catina, o Tio Santo e seus sorrisos italianos sinceros de boas-vindas.
Os passarinhos avinhados agitados e falantes, os curiós. O tanque com os peixes, silenciosos como só os peixes sabem ser.
O Nelson "japonês" com sua faixa branca no cabelo, sempre pronto a investir o tempo que fosse necessário prá me por um sorriso no rosto. Será que ele se lembra ainda hoje disso? O Luis, a Mafalda, o Chico já então ausente...
São São Paulo, aglomerada solidão, mas não alí na casa do Tio Santo, na Quinta das Paineiras.
As conversas na cozinha. O que eles falavam,mesmo? Eu tenho certeza de que só ouvia, caipira que só... A Nina, quase me esqueci dela, que eu nem ousava admirar ou chamar de prima, tal a minha silenciosa admiração por ela...
Depois : a mala pesada, a mesma caminhada no sentido inverso, agora parecendo muito mais longa. O lanche que se transformava em papel antes de chegar de volta na Estação da Luz, a doce rotina da casa da Tia Catina e do Tio Santo na Quinta das Paineiras, Vila Prudente.
A casa na Rua Paraibuna que não me lembro o número me parecia um pedaço do paraíso que a mim só era dado visitar nas férias. Eu conseguiria, então, abraçar essas pessoas e dizer o quanto gostava delas, mas não o fiz...
Como Ataulfo Alves já disse: eu era feliz e não sabia. Devia haver um alerta prá gente perceber, mas geralmente só se percebe quando já é tarde, mas quem sabe ?
Leonilson
25/09/2009 22:30 - Maria Alice Zocchio
"... Devem haver aí as lembranças da Quinta das Paineiras que você se referiu em um comentário no meu texto sobre o Hino. Morei muitos anos na Vila Zelina e achei interessante a coincidência,mas não comentei naquela ocasião."
Há sim, Maria Alice.
Por que só agora, passado tanto tempo, achei de escrever a respeito ? É que nesse tempo todo eu buscava a inspiração que fizesse juz às minhas próprias lembranças. Desisti e resolvi arriscar assim mesmo:
Era uma outra época em que eu, menino, às vezes ia a São Paulo acompanhando o pai, que ia buscar cortes de calça (ainda se faz calças em alfaiates ou costureiras?). O pai, aposentado da falecida Mogiana, tinha múltiplas atividades para equilibrar todos os pratos como o Chinês do circo. Essa era apenas uma delas: comerciante de tecidos.
Lembro da placa que era motivo de desconfiança na estação de Campinas: "trens para o interior", da infalível Crush e da paisagem apressada pela janela. Estação da Luz. Trem de subúrbio da Santos-Jundiai. Bras, Mooca, Ipiranga. Daquela caminhada pelos campos de futebol de traves retangulares, da passagem pela favela sem qualquer cuidado e da chegada à Rua Paraibuna não lembro o número mas como lembro da casa... A Tia Catina, o Tio Santo e seus sorrisos italianos sinceros de boas-vindas.
Os passarinhos avinhados agitados e falantes, os curiós. O tanque com os peixes, silenciosos como só os peixes sabem ser.
O Nelson "japonês" com sua faixa branca no cabelo, sempre pronto a investir o tempo que fosse necessário prá me por um sorriso no rosto. Será que ele se lembra ainda hoje disso? O Luis, a Mafalda, o Chico já então ausente...
São São Paulo, aglomerada solidão, mas não alí na casa do Tio Santo, na Quinta das Paineiras.
As conversas na cozinha. O que eles falavam,mesmo? Eu tenho certeza de que só ouvia, caipira que só... A Nina, quase me esqueci dela, que eu nem ousava admirar ou chamar de prima, tal a minha silenciosa admiração por ela...
Depois : a mala pesada, a mesma caminhada no sentido inverso, agora parecendo muito mais longa. O lanche que se transformava em papel antes de chegar de volta na Estação da Luz, a doce rotina da casa da Tia Catina e do Tio Santo na Quinta das Paineiras, Vila Prudente.
A casa na Rua Paraibuna que não me lembro o número me parecia um pedaço do paraíso que a mim só era dado visitar nas férias. Eu conseguiria, então, abraçar essas pessoas e dizer o quanto gostava delas, mas não o fiz...
Como Ataulfo Alves já disse: eu era feliz e não sabia. Devia haver um alerta prá gente perceber, mas geralmente só se percebe quando já é tarde, mas quem sabe ?
Leonilson