Caim e Abel
CAIM E ABEL
Um, foi parar no “céu” da boca do gato. O outro para o “inferno” de doce quente.
Não se trata de personagens bíblicos. São apenas dois pássaros pretos: um que se chamava Abel e outro Caim. Todos eram bons filhos de Deus, porém, Caim era espírito de porco.
Vamos começar por Abel. – Foi criado desde filhotinho, assim como Caim. Com direito a papinha no bico e tudo mais. – Cresceu, ficou adulto e achou que já era gente. Por isso, gostava de sair sozinho pelos fundos do quintal para bicar umas frutinhas ou pegar algum inseto. –Só que, para sua intranqüilidade, andava por ali um mau caráter chamado Lúcifer, o gatão. Lúcifer andava de tocaia esperando a hora de atacar.
Não demorou muito. Certo dia, Lúcifer deparou com Abel em seu habitat natural, bem distraído, e não percebeu que seu inimigo estava bem perto, bem escondido, camuflado.
Lúcifer encolheu-se todo quando viu o banquete bem próximo de seu focinho. – Armou-se e deu um pulo certeiro pegando Abel pelo pescoço. O pássaro chiava, mas em vão.
Quando um dos meninos da casa ouviu o barulho, foi verificar o que era. E viu o gatão rosnando com Abel na boca. O menino chamou seus irmãos e puseram-se em perseguição ao gato maldito. O bichano corria, entrava debaixo das moitas, rosnava, mas não soltava o pássaro.
- Um dos meninos falou” vamos pegar esse gato malvado”? Os outros irmãos concordaram.
- Mas como? Ele é esperto.
- Vamos pedir ao seu Milton para dar um jeito nele? Sugeriu um irmão.
Estava selada a sorte do gatão. Seu Milton logo apareceu com um revólver calibre 38 “Smith & Wesson”. Foram à procura do gato. Não demorou muito e o encontraram, ainda, com o bicho na boca.
Seu Milton atirava bem. – Mirou no gato e atirou de uma só vez, e o bichano caiu mortinho, largando sua presa morta. Todos gritaram de euforia.
Não satisfeitos com o que fizeram, os irmãos queriam completar a vingança de Abel.
Para isso, arranjaram um litro de gasolina, molharam o corpo do moribundo e atearam fogo.Não demorou muito e só restaram as cinzas.
Os meninos, choramingando, com muita pena de Abel, pegaram os restos mortais e enterraram no quintal. Botaram uma cruzinha para marcar o local.
Caim, de tão inquieto que era, foi preciso podar suas asas afim de que não voasse para longe e tivesse a mesma sorte de Abel. Assim, Caim vivia nos limites do interior e da varanda de casa, pulando de um lado para o outro, beliscando os pés de quem se aproximasse dele. Quando alguma pessoa lhe tocava, ele se arrepiava, assobiava e partia com toda fúria para cima dela.
Certo dia a casa estava cheia. Gente que tinha vindo de São Paulo, Minas Gerais e outros estados, a fim de reunir a família. Todos estavam preocupados com os comes e bebes. Uns preparavam churrasco, outros, café e outros mexiam o tacho de doce de leite quente.
Caim, no meio daquela algazarra, queria saber o que estava acontecendo. Com suas duas asas podadas, só podia pular e era o que estava fazendo. – Pulava em cima da mesa, dos bancos e nesse entusiasmo, foi parar na beira do tacho de doce de leite fervendo. Como não tinha asas para voar, tentou dar um pulo, mas foi cair direitinho no meio de doce quente.
E assim, o pobre Caim virou pássaro cozido com cobertura de doce de leite.