MEMÓRIA NACIONAL

Os primeiros africanos começaram a chegar ao Brasil no ano de 1548, segundo o historiador Pedro Calmon, oriundos da Costa da Guiné, portanto, 48 anos depois da conquista do nosso país pelos portugueses. Disso podemos concluir que tanto quanto os portugueses, os africanos de diversas etnias foram os primeiros construtores dessa nação que ora chamamos de Brasil (sem esquecermos dos índios, evidentemente, que aqui já estavam). Nessa época, o continente africano era fracionado pelos conquistadores europeus, que avidamente misturavam etnias muitas vezes até inimigas entre si, para melhor governar e formaram as nações que, hoje em dia, naquele continente vemos sempre em pé-de-guerra.

Dentre todos esses havia os de religião muçulmana, intitulados aqui de ‘malês’, que eram os mais letrados, conheciam língua e escrita árabe e o alcorão. Sua principal função era ‘pajear’ e ajudar na cultura dos filhos dos senhores de engenho e, embora sofressem menos castigos que os seus companheiros de outras nações, por sua mais elevada cultura, é claro, foram os que percebiam melhor a humilhação e consequentemente foram mentores de um dos mais extraordinários episódios da história: ‘a guerra dos malês’. Embora pouco estudado no seio da cultura nacional, esse movimento deveria ser examinado com mais seriedade, já que os descendentes de africanos perfazem a segunda metade da população brasileira e seus heróis e feitos são dignos de ser cultuados tanto quanto as outras personalidades do nosso país.

Cansados de sofrer as atrocidades praticadas pelos ‘senhores’, no ano de 1835 foi planejada a revolta que eclodiria em janeiro, no dia de Nossa Senhora da Guia, quando oficializariam Luíza Mahim como ‘presidente’ da Bahia e Sabina da Cruz como sua ‘vice’, tendo ambas, a incumbência de libertar a Bahia dos algozes da população escrava. O intento porém, não teve sucesso, porque todos foram traídos pelo marceneiro Duarte Mendes, justamente o marido de Sabina da Cruz.

Sítios históricos como a Lagoa do Urubu (na Mata Escura); o Solar do Gravatá (Praça dos Veteranos); a própria casa onde residiu Luíza Mahim, na Rua do Bângala; o Bogum e outros deveriam ser preservados e cultuados como baluartes da memória nacional.