A arte de vender ao alcance de todos

Até o fechamento desta edição, não se teve notícias da contratação da velhinha do pano de pratos e da moça da rosquinha pelos comitês de Zé ou Ricardo. Eu, sendo chefe do setor de Marketing da campanha política, já contratava essas duas vendedoras geniais que conheci nas ruas de João Pessoa.

Se você olhar em volta, vai ver que somos todos vendedores. Estamos sempre vendendo alguma coisa. Vende-se ilusões como Madame Preciosa ou aquele pastor da igreja “pegue pague”, ou ainda o candidato que promete o mundo e o fundo mas acaba por dar apenas o que tem. Vendemos a nossa própria imagem para conquistar alguma coisa. Vendemos nossos atributos de forma sedutora, para ganhar um(a) parceiro(a). Enfim, vendemos nossas idéias, nossas habilidades, nossa força de trabalho. E há os que vendem produtos concretos, artigos manufaturados. É o que fazem a velhinha do pano de pratos e a moça da rosquinha.

Para convencer alguém a comprar nosso produto, temos que ser, antes de tudo, muito simpáticos. Precisamos antes vender nossa imagem de pessoa agradável e atenciosa, que pensa semelhante ao potencial freguês, que tem seus gostos e visão de mundo. Tenho amigo que vende assinaturas de jornais e revistas. Antes de visitar um cliente, procura saber de suas predileções. Por exemplo, se o cara é vascaíno, ele vai visitá-lo vestido com a camisa do time.

A velhinha do pano de pratos é uma velhinha que vende panos de pratos nas ruas de João Pessoa, óbvio! Ela chegou pra mim e falou, com cortesia:

-- O senhor me desculpe dizer, mas tenho na minha frente um coroa muito do charmoso, que deve ser uma pessoa bondosa, caridosa e muito feliz. Obrigado pelo senhor existir nesse mundo! Não quer ajudar a velhinha comprando um paninho de pratos pra dar ao seu amor em casa? Custa só um real.

Dependendo do seu humor e da disponibilidade na carteira, você é arriscado comprar todo o estoque da velhinha diante desse discurso de admiração e louvor. Não comprei nenhum pano porque o único real disponível repassei para a mocinha do estacionamento, que no caso vende espaços públicos. Como essa venda é automática e incondicional, a mocinha não precisa parecer simpática.

A moça da rosquinha é uma jovem de seus vinte anos, que vende rosquinhas no bairro do Geisel. Ela passa nos bares na hora em que os coroas estão com os buchos cheios de cerveja, naquela fase da bebedeira em que você se acha o tal: rico, bonito, brabo e orgulhoso, mais caridoso, carinhoso e garanhão. Ela chega com faceirice e encanto, cestinha na mão:

-- Quem quer comer minha rosquinha?

Vende todo o estoque de repente. Os velhinhos compram a rosquinha da moça só pelo prazer de desfrutar do seu sorriso.

Vejam o fato excepcional do Toinho do Sopão, deputado estadual mais votado na Paraíba. Rapaz humilde, tem como único proveito para sua popularidade um sopão que distribui com moradores de rua em João Pessoa. Dia após dia, foi construindo sua imagem de filantropo, vendendo essa relação simbólica que caiu enfim na consciência do povo e o fez deputado. Um fenômeno de vendas e tenacidade.

Vender é isso. Convencer, persuadir, e deixar o outro satisfeito nesse processo. E como ter sucesso nessa arte? Por que a moça da rosquinha e a velhinha do pano de pratos não prosperam no seu negócio? Talvez a única explicação universal seja porque o vendedor de resultado é o que não dispensa o caixa dois, o que rouba no peso, compra roubo, vende produtos inferiores como de qualidade, explora seus empregados, sonega impostos e se ajusta com corruptos oficiais para ganhar licitações fraudulentas. No dia em que a moça e a velhinha descobrirem esses estratagemas, e se tiverem pouco caráter, o negócio vai fluir... No caso do Toinho do Bolo, ou do Sopão, o sucesso dele talvez seja mesmo a falta de opção do eleitor, cansado dos políticos tradicionais.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 04/10/2010
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