Salsa na lapela

Se você possui boa memória deve guardar receio do Rodolfo. Certas coisas são duras de recordar. Como ele era? Sério, exato e absurdo. Tudo começou numa festa. Nilzinha terminou de repente com ele. Sem aviso prévio. Durante os dois meses seguintes o homem mais adorado e reto do serviço de Tecnologia entrou em “surmenage”, Era isto o que ele adquiriu por culpa de Nilzinha, um adeus fatal em sua vida.

O gerente cansado daquilo lhe chamou.

- Venha cá, Rodolfo.

- Aproxime-se. Amigo, irmão.

Ficou admirando aquele maço de salsas na lapela do velho funcionário Rodolfo.

- Está usando salsa como flor de lapela?

- Estou.

Aquilo machucou. O que há de errado em utilizar salsa na lapela? Em poucos segundos está perto da boca. Gente por aí usa rosa, disputando com o cravo, um lugar no antigo ramo do cavalheirismo. Mas queria modificar esse sistema e teria de ser assim. Usava salsa e continuaria usando

Seu tédio de adeus se desfazia naquele momento até o pátio. Ali começava a sentir amor pela vida. Esquecia o abandonado e as trevas herdadas de Nilzinha. Sentia-se pronto para outra porque ficava sozinho diante dos trêmulos pés desse tempero ao vento.

Um engraçadinho lhe bateu nas costas indagando com desrespeitoso cinismo:

- Utilize em flocos.

Primeiro perdeu a mulher, depois perdeu o emprego. Para ele a salsa passou a ser a maconha da salada.

As pessoas mal sabem em que consiste empregar sem controle certas substâncias...

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