Zizinha-A vizinha
ZIZINHA – A VISINHA
Zizinha era uma menina vesga. Dessas vesgas que para olhar em qualquer direção, tinha que virar o pescoço. Era feia de dar dó. Gordinha, baixinha, com aquele rosto redondo e dois olhos esquisitos, plantados na cara.
Todas as vezes que passava por ela, tinha que me botar aqueles olhos esquisitos. Só que eu não sabia se ela olhava pra mim ou para outro lugar.
Era uma gozação geral. A turma já dizia que Zizinha era minha namorada. A família dela, até que era legal. Os seus irmãos eram meus amigos e sempre nos divertíamos – nadando, andando de bicicleta e jogando cartas em sua casa.
A Zizinha tanto me perseguia,que um dia resolvi dar-lhe uma “banana”. Porém, não imaginava que meu gesto iria causar tanto transtorno; quando cheguei em casa, foi aquela coça, com cinto de fivela e tudo. Nem mesmo sabia porque estava apanhando. Mas, Zizinha era teimosa. Resolvia sempre me vigiar onde quer que eu fosse.
A casa da Zizinha, era uma dessas construções de estuque muito comum em Minas Gerais, naquela época. Construída de estacas verticais e ripas de coqueiro transversais e depois barreada. Mas, mesmo assim, era bem limpa, bem caiada com barro branco. No topo das paredes do meio, sobravam aquelas pontas de estaca, distantes uma da outra, cerca de um palmo.
Subindo num caixote de “kerosene”, a Zizinha gostava de usar uma daquelas paredes de um dos quartos contíguos, para me olhar entre as duas estacas, enfiando o pescoço por ali. Quando estava jogando com seus irmãos na sala, dava uma rápida olhada no topo da parede e lá estava a Zizinha com aquele olhão em mim.
Bem, não podia imaginar que um dia as coisas ficariam ruins para a vesguinha. Certo dia, quando estávamos a jogar vinte e um, como sempre, a Zizinha subiu num caixote para espiar-me. Por lá, ficou, ficou, ficou...; o jogo já havia acabado e a Zizinha continuava lá, com os olhos muito arregalados. Achamos estranha a sua atitude e assim resolvemos dar uma espiada.
Abrimos a porta do seu quarto..., o susto foi tremendo; lá estava a Zizinha com o pescoço entre as duas estacas e com a cabeça bem presa. O caixote havia afastado e seus pés ficaram suspensos no ar. Sua garganta comprimiu-se contra o topo da parede e sua respiração parou.
E assim, a Zizinha, coitada, morreu roxinha de tanto espiar-me de cima das paredes.
P.S. – Vamos mudar o final. Na realidade, a Zizinha só ficou roxa, mas não morreu. Eu queria que ela pagasse a surra que tomei por causa dela. Acho que ela vive por aí olhando, não sei para onde.