O senhor me ajuda a votar na Dilma? – Mário R. A. Lima
Bem amigos, a sorte está lançada!
Acabo de chegar de minha zona eleitoral e gostaria de tecer alguns comentários sobre o que andei vendo e pensando esta manhã. Como de costume, saí para votar de carro com minha esposa. Eu voto em uma escola da APAE e ela, chiquérrima, vota em um colégio da elite aqui de Passos.
Chegando à APAE, deixei a esposa no carro e me dirigi a minha zona de votação. Que zona! Que fila. Ao chegar fui logo me inteirando da polêmica da vez: idosos deveriam, ou não, respeitar as filas? Uma mulher acalorada defendia que “se idoso não era obrigado a votar, votava porque queria, então tinha que respeitar a fila!”. Quanta lógica! Uma outra mulher começou a querer tirar os velhinhos da fila, mandando-os para casa sem votar. Um homem interveio em favor da velharada e falou: “deixa os coroa votar, vêm deles os melhores votos!”. Um piadista arriscou: “ainda bem que os alunos daqui não votam, senão dava Dilma já no primeiro turno”. Ninguém riu e eu fiquei preocupado. No fim, diante da confusão, uma senhora achou que iria desmaiar e alguns bem intencionados resolveram passar apenas “os dois mais idosos” para a parte da frente da fila. Resultado: mais confusão! Logo apareceram uns quinze representantes da melhor idade para entrar na minha frente e cumprir com suas obrigações cívicas.
A parte boa foi a diversão, esta história para contar e, quem sabe, a luz que vislumbrei no fim do túnel! Cheguei ao colégio eleitoral de bermuda e camisa do Botafogo, conquistando logo a simpatia e os pêsames de muitos companheiros de fila... Ô timinho para entregar o ouro! Na minha frente estava um senhor inquieto com bafo de cachaça e uma colinha na mão. Pedindo para eu marcar o seu lugar, entrou e saiu da fila um punhado de vezes! Virava para os mais simpáticos e dizia: “E aí? Vamo tomá uma?”. Reclamava com os vários conhecidos que tinha que chegar logo em casa para “beber sua caixa de litrão”. Não tardou a confessar para mim que estava apreensivo em não saber votar, “não estava conseguindo ver bem os números do papelzinho!”. Pensei logo: que bom! Ponto para a aguardente que embaralha as vistas. O bebum era eleitor convicto da Dilma. No auge da confusão da terceira idade ele gritou: “Ei! Eu sou asfastado do INPS, bota eu pra frente, pô!”. Conversa vai, conversa vem, nossa vez vai se aproximando. O hominho começou a se preocupar mais. Já estávamos íntimos. Falou pro mesário da porta: “O seu moço, me ajuda a votar na Dilma?”, o rapaz disse que não poderia, mas que se ele tivesse um conhecido por ali poderia pedir ajuda. De pronto o pé de cana vira pra mim e faz o fatídico pedido: “E ocê, me ajuda a votar na Dilma?! O resto eu vou anular, só quero votar no 13!”.
Aqui cabe um palavrão... um monte deles! Por isso separei um parágrafo inteiro.
Pensa rápido Mário... será que ela andou prometendo o Bolsa Cachaça? Isto é que é um conflito ético. Confesso que me vi com a oportunidade nas mãos de tirar um voto, pelo menos um votinho dela. Quarenta e três parece com 13, será que ele iria notar? E se fizesse um escândalo? Seria crime eleitoral? Na hora que eu já ia decidindo pelo certo, atenderia o pedido do infeliz e guardaria segredo pelo resto da vida, o mesário interveio de novo, provavelmente percebendo minha situação. “Senhor, é fácil! Digita o vermelho (anula) e depois o verde (enter)... faz isto cinco vezes, depois é só digitar o 13 e apertar o verde!”. Ufa! O cana braba concordou e eu salvo pelo gongo.
Apresentando meus documentos para votar fui, é claro, acompanhando o desempenho do meu amigo nas urnas. Estranhei, foi tudo muito rápido. Disse que adorou votar e, no fim, perguntou porque não tinha visto a cara de sua benfeitora, a Sra Dilma. O mesário, tentando conter o riso, forçando cara de atenção, falou que provavelmente ele deve ter anulado o último voto também. “Bão também! Vamo tomar uma, então!”. Eu, lá com meus botões, fui fazendo as contas de quantos eleitores não cometeriam o mesmo engano. Confesso que fiquei bem animado. Será isto um pecado? Viva a ignorância e a miséria!
Voltando para o carro, recuperando-me de minha crise de egoísmo e desespero, fui logo encontrando a minha senhora, que me pareceu mais morena e irritada do que o de costume. Também com um Sol destes! “Que demora! O que aconteceu?”. Respondi: Deixa pra lá! Depois eu te conto. Minha zona é sempre a mesma bagunça. Não dei detalhes, mais tarde ela lê o texto.
Chegando na zona dela, é claro, desci e a acompanhei até o seu local de votação. Sem filas, gente bonita e, educada, fui ficando ainda mais animado. Quem sabe por aqui a Dilma não vai ser minoria? O problema é que ser maioria da minoria não faz mesmo muito efeito. Enquanto minha esposa entrou para votar, um mesário sem serviço falou para um eleitor conhecido que estava chegando: “Vota no Tiririca! Pior do que está não fica.”. O cara riu e não respondeu. Quanta elegância tem estes ricos! Eu, lá comigo, pensei... o pior é que fica!
Voltando pra casa, passando na frente do cemitério da cidade, um monte de carros estacionados. Perguntei para a Cris se alguém votava lá dentro e ela, pouco afeita a minha ingenuidade e senso de humor, respondeu delicadamente: “É claro que não seu tonto, as pessoas morrem também em dias de eleições!”. Eu, mais íntimo dos meus botões, fui logo me perguntando. Em quem será que o falecido ia votar? Melhor que fosse eleitor da Dilma!
Pois é, eu não presto.
Meu castigo pode ser o de que, já amanhã, tenhamos uma nova presidenta.
Mário R. A. Lima