UMA ENTREVISTA DE EMPREGO

O prédio onde passei pela primeira vez por uma entrevista de emprego, localiza-se no cruzamento da Avenida Ipiranga com a Avenida Rio Branco, por sinal muito bonito para os padrões de um pobre baiano recém - chegado, migrado, para São Paulo em 1980.

Eu trajava uma calça social de cor cinza, camisa também social, cuja cor era azul claro, presente de amigo secreto, ganho ainda em Santa Maria, meias pretas e calçava um par de sapatos à Luiz XV, de cor marrom, presente dado pelo amigo Nem, que o havia comprado na Rua Teodoro Sampaio.

Identifiquei-me na portaria do prédio, entreguei o anuncio do jornal para a linda recepcionista, que em seguida acabou por encaminhar me até a sala de triagem. Uma outra bela moça, lindíssima, entregou-me um formulário para que eu o preenchesse, respondendo a todas as questões ali exaradas. Mais tarde fiquei sabendo que o nome correto do tal formulário era proposta de emprego.

Assim que eu preenchi o formulário, o entreguei para a linda moça, juntamente com a minha CTPS, em seguida fui conduzido para uma outra sala, totalmente lotada de candidatos para as vagas de empregos anunciadas no Jornal: A Gazeta Esportiva. A Maioria das pessoas trajava roupas executivas. Poucos gatos pintados, como eu, trajavam bregamente à social: Calças e camisas sociais, sem ternos e gravatas.

Fomos submetidos à uma quantidade de entrevistas, dinâmicas de grupos, coisa nova para mim, pois eu nunca tinha visto isso antes. A cada vinte minutos, entrava um instrutor palestrante diferente. Ficamos das oito da manhã até o meio dia,sempre com intervalo de dez minutos entre uma palestra e outra. Antes de sairmos para o almoço, entrou um japonês, trajando um terno totalmente cinza, com as mãos cheias de carnês que foram distribuídos um a um para cada um de nós, ali presentes, e, logo em seguida começou a falar:

- Todos foram bem avaliados e demonstraram grande potencial para fazerem parte do nosso grupo, nesta Empresa. Porém, vocês ainda terão um teste final, que consiste em vender o carnê de seguro que está em poder de vocês. Aproveitem bem o horário de almoço e tenham uma boa sorte!

Ao sair do prédio, comecei a olhar para o mundão de pessoas andando apressadamente indo e vindo na Avenida Rio Branco e Ipiranga e diante de tantos rostos desconhecidos,não tive nem um pingo de coragem para oferecer o tal carnê para alguém.

Liguei para o meu amigo Ailton, que laborava no extinto Comind e expus o meu problema para ele.

- Cai fora que é fria! Respondeu- me . Retornei ao prédio, mas o japa com sua verbe persuasiva, convenceu me a tentar de novo. Voltei à Avenida, sapatos novos , calos começando a doer e eu continuava abestalhado sem saber como vender o tal carnê para alguém.

Novamente telefonei para o Ailton – Cai fora que é B.O! É sacanagem dessas empresas! Você vende o carnê e não é admitido!

Ao retornar novamente ao prédio, o japa falou-me o seguinte: Se você tiver a grana, compre o carnê, vale a pena para conseguir o emprego que é muito bom! Não posso!-Não tem um amigo ou parente para emprestar-lhe a grana?-Não! Pôr favor devolva meus documentos e tome o seu carnê!

Foi difícil fazer o japa executivo receber o carnê e devolver os meus documentos: Mas o venci pelo cansaço. Após receber os meus documentos, sai do prédio e fui comer um pastel de carne com coca-cola, pois, além dos calos, a fome passou a ser uma nova companheira para mim, naquele dia de entrevista e de esperança pelo meu primeiro emprego em São Paulo.

É isto ai

Luxfé