A ESCOLHIDA DE ARQUIMEDES

Arquimedes, agora com 40 anos, resolveu dar adeus àquela vida solitária. Desde seu último passo em falso, viveu recluso e agora cansara.

Colocou em prática uma tática nada habitual entre os solteiros. Fez uma lista das mulheres disponíveis em sua cidade e que estariam à procura de um companheiro para dividir as dores e os prazeres.

Uma verdadeira odisséia que lhe exigiu quatro meses de pesquisas. Primeiro as classificou por faixa etária (todas acima de 30 anos), profissão, seios turbinados, bumbum farto e levantado, lugares que frequentavam, bebida preferida, estilo musical, gestos, olhares, enfim, tudo. Ou quase. A lista rendeu 148 beldades.

Na primeira triagem eliminou 21. Esse quesito começou pelo nome. Não queria nenhuma mulher que tivesse Maria no primeiro ou segundo nome. Um trauma. A santa que o perdoasse.

Na segunda eliminação mais 29. Não gostou de ver como elas beijavam os amigos. Os exageros que aconteciam com quem possuía automóvel de maior valor era um evidente sinal de caçadoras de fortunas.

Outras 43 (ou 44) foram excluídas pela maneira nada exemplar de como se comportavam quando bebiam umas a mais. Soltavam a franga e não mediam palavrões sem ter um pingo de respeito com quem estava próximo. Nove pelo mau gosto em se vestir, 16 por serem mais alta que ele, onze que lhe ‘aconselharam’ a depilar o peito e quatro por usarem drogas ilícitas. As demais não vou relatar porque tenho vergonha.

Restaram Nair e Bárbara.

Ao pesquisar o lado familiar, descobriu que a mãe de Nair falava pelos cotovelos e em tom altíssimo. E sendo apenas 22 anos mais velha que a filha, já pesava 116 quilos. “A fruta não caí muito longe do pé”, concluiu.

Restou Bárbara que não era só bárbara de nome. Jornalista, 33 anos, um sorriso de fazer qualquer candidata a miss Brasil morrer de inveja e até com alguns requisitos a mais.

Primeiro contato e sinal verde. Primeiros encontros, 10! Bate-bola gostoso e tudo se encaminhou para os finalmentes.

E Bárbara resolveu colocar ordem na casa. Ou mostrar o outro lado da meia noite.

Barba cortada todos os dias, cabelo cortado a cada três semanas, unhas aparadíssimas, contatos pelo celular de duas em duas horas assim divididos: 8 horas ela ligaria, 10 horas, ele; 12, ela; 14, ele; 16... Nada de desculpa esfarrapadas e sempre com o carinhoso tratamento de ‘meu amor’ e ‘ti amo’. Sem a presença dela em lugar algum. Cigarro? Não seja louco. Cheirando wiske, vodca, conhaque ou aguardente? O-D-E-I-O! Pais e demais parentes, quanto mais distantes, melhor.

Amizades, aquelas, todas cortadas. Sapatos, aqueles, pro lixo. Relógio, aquele, fora. Calça Jeans nem pensar. Camisa somente de manga comprida e impecavelmente passada e cuecas... menos as vermelhas e rosas, claro. Olhares para outras? Nem para freiras. Perfume pessoal aquele que ela o presenteou. Carro sempre lavado e no seu interior perfume Michelin Air Freshener (o mesmo usado por Vera Lúcia de Oliveira que escreve aqui no Recanto crônicas maravilhosas, vale a pena conferir).

Quatro meses depois Arquimedes jogou a toalha. E as lágrimas e os telefonemas agora eram de meia em meia hora prejudicando ainda mais seu trabalho, mas sempre uma resposta carinhosa: - "Desculpe ‘vida’, mas você é muito exigente e tipo chicletão – não desgruda."

Agora Arquimedes anda ocupadíssimo revendo nomes. Pode ser até que alguma Maria volte a ocupar a lista.