Quando a energia acabou

Quando a energia acabou

Quando a circular chegou informando que o fornecimento de energia elétrica seria interrompido em determinado dia, para obras de manutenção na rede elétrica, muitas não deram atenção. E por descaso, o dia marcado acabou ficando esquecido.

Sendo, todos, pegos de surpresa: A reclamação foi geral.

As expressões de contrariedade e o mau humor, seguido de reclamações, anunciava que o dia seria sombrio.

Difícil aceitar a transformação da rotina.

As crianças menores, não podiam contar com a baba eletrônica, enquanto os maiores teriam que abrir mão do vídeo game, play esteichom e tantas outras alegrias virtuais. Resolveram, portanto: brincar do lado de fora.

E houve jogo de bola, queimado, pique, peteca e principalmente ar puro, sol, e muita alegria real, verdadeira!

A menina moça teve que desistir de secar os cabelos, fazer chapinha e se tornar a cópia do top model. Assim, livre saiu com os cabelos soltos ao natural, cheio de cachos, não como de uma princesa, mas como ela mesma. Não se importou com a aparência, curtiu o sopro do vento e a sensação de liberdade.

O jovem rapaz desistiu dos altos decibéis do seu som.

Aproveitando o sol, foi dar banho nos cachorros e começou cantar com a voz, hora grave hora aguda, própria da adolescência.

A mãe não pode mais costurar. Largou a máquina de costura, esqueceu o telefone sem fio e foi se juntar aos que estavam do lado de fora.

O pai abandonou o computador e desistiu do trabalho. Atraído pela alegria que vinha do lado de fora: resolveu participar das brincadeiras; e enlaçando a companheira lembrou- se de quando eram namorados.

A empregada não ligou a maquina de lavar, nem passou roupa. Contagiada pela alegria que se espalhava no ar, pegou a vassoura e cantarolando foi varrer o jardim.

O freezer permaneceu fechado e não teve comida congelada.

Como o automático do fogão não funcionasse, foi preciso achar a caixa de fósforos.

Nada de torradeira, liquidificador ou microondas.

Parecia uma volta ao passado. Quando o “Bem Estar Familiar” nada tinha haver com aparelhos movidos a eletricidade e tecnologia.

Semelhante a musica do Chico Buarque: O homem sério, a moça sonhadora, o rapaz atleta. Todos pararam. Não para ver a banda passar, mas para viver por algumas horas uma alegria simples, verdadeira e sem tecnologia.

E todos riram, conversaram, deram as mãos, pegaram sol, cantaram e foram felizes.

Mas, como o tempo não para, nem retrocede (ainda bem): Tudo retornou ao seu lugar quando a energia voltou.

E cada um no seu canto... E em cada canto uma menor solidão.

Lisyt

Lisyt
Enviado por Lisyt em 02/10/2010
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