Prazeres

Os vícios nos alimentam de prazeres extremos, que, usufruídos fisicamente, inundam nossa psique e nos transbordam de alegria. São milhares os vícios. Proibidos e liberados. São sonegados, são almejados. Todos têm.

Possuo as fanfarras. Cultivo-os como filhos pródigos, meus, só meus. Coloco-os sob meus braços e não os liberto pra ninguém. Sofro e choro com eles. Amo e rio. Gargalho.

Um se sobressai com fervor, admito. É inquietante, presente, contínuo. É unânime. O gosto do prazer incessante de uma Coca-Cola, um líquido gasoso negro de sabor ínfimo. Nela deposito momentos que transfiguram o real, passo a saborear, a sorvir, a cultivar o prazer. Sinto literalmente o gosto do prazer. Bebo todos os dias, rigoroso, pontual. Bem sei que me fará mal, trará barriga avantajada, glicose, problemas ósseos. Tudo isso sei. Mas sei também viver o momento, o prezado instante, o agora. A vida é instantânea.

Vivo a vida, e nada mais importa. Vivo o ponto final, cada vírgula, e isso me traz ao encontro de mim.