Lugar de caça
Uma verdadeira selva. Um recinto em que se contempla a beleza das possíveis presas, exibindo ao mesmo tempo os próprios atributos positivos. As qualidades físicas são forçosamente evidenciadas pelas peças de roupa ou a falta delas, e as negativas são disfarçadas com o mesmo efeito.
Isso mesmo, propaganda. Enganosa ou não. Os corpos se exibem a pretexto da música, numa verdadeira oferta de produtos a pronta entrega. Catálogo vivo. Chamam isto de “dançar”.
Quem tem baixa auto-estima não tem vez. Beleza interior é autoconfiança e papo, ou seja, “xaveco”. Os carudos têm mais chances. Conteúdo? O que que é isso? O que vale é ser divertido, não importando o tamanho da asneira. Perguntar “que livro você está lendo?” seria o maior mico. É um lugar para corpos e não mentes. Para se dar bem, não importa o que se tem em mente, mas sim como se mente.
Início da noite: momento de autovalorização. Ou melhor, da supervalorização pessoal. A exigência é alta. O momento é de observar atentamente o território à espreita do melhor alvo. O melhor de todos! Claro que ainda pode chegar um alvo novo, melhor ainda. Por isso, o ataque é com cautela. Não se pode apostar todas as fichas no mesmo lance logo no início do jogo. Não se usam todas as munições. Mesmo que alguma presa caia na armadilha, ainda não é o momento do ataque derradeiro. E presa muito fácil vale menos, não tem graça.
As horas passam. O nível de exigência vai caindo e o de álcool no sangue, aumentando. Quanto mais se demorar a capturar a presa fatal, menos tempo se terá para saboreá-la. Mas isso não significa atirar para todo lado, não. Nem tudo que cai na rede é peixe. Momento de inflexão. Algumas das melhores opções já foram tomadas. Alerta! Necessidade vira coragem. Os mais carudos já abordaram as melhores presas desde o início, conseguindo ou não.
É tarde. As melhores opções já estão acompanhadas. É alto o nível das diversas substâncias consumidas voluntaria ou obrigatoriamente neste ambiente fechado. A produção visual já não é mais novidade, nem está mais como no início. Os que ainda estão avulsos sentem frustração por verem vários alvos atingidos, conhecidos acompanhados e o relógio rindo da sua cara. Nível mínimo de exigência: atira-se para todo lado.
Fim de festa – ou de feira: produtos amassados, mais baratos, acessíveis a todos. Leva quem quer. E quem quer leva. Cedo ou tarde, ou cedo de tão tarde, todo mundo teve a sua vez.
O que é que fica disso tudo? Muitos troféus, que poderão ser exibidos nas histórias de conquistas vangloriosas, ou que servirão como uma boa massagem no ego inflamado.
(Catalão, 18/09/2010 – revisado em 02/10)