Crack ou Comida?
Meu irmão entrou no Bradesco (Agência Teleporto), após sairmos da Caixa Econômica Federal onde recebemos um quantia razoável em espécie. Eu, por segurança, havia feito um Doc e estava apenas com o essencial para um lanchinho e alguma emergência no caminho de volta ao subúrbio. Não quis entrar no banco com ele e fiquei próxima a um orelhão fumando um cigarro, pensando na vida, nos passos seguintes a dar, organizando mentalmente minhas obrigações para o resto da semana que começava e relaxando um pouquinho.
De repente, dois meninos de rua, sujos, descabelados, descalços se aproximaram e foi tudo muito rápido! Um estava em uma bicicleta, o outro a pé. Todos dois sem camisa e com os shorts bem puídos. O da bicicleta seguiu sem que eu sequer reparasse, distraída que estava.
Nem mesmo no centro do Rio, ou em qualquer outro local dito ‘perigoso’, consigo me manter alerta quando desligo para descansar mentalmente. Assim sou eu. Trafego pela metrópole como trafegaria pelo interior se lá estivesse... Sou um perigo para mim mesma quando extremamente cansada! O outro menino, a pé, gritou:
- Cinco reais! Achei cinco reais! – E olhando para mim, perguntou:
- É seu, Tia?
- Não. Não é meu.
- Parou e com um sorriso no rosto tenso insistiu:
- Tem certeza? Né seu não?
- Não, meu anjo! E se adianta com seus R$5,00, senão daqui a pouco a parece um dono.
- Valeu! Vô comê! Tô varado de fome...
- Ei, menino! – Chamei enquanto ele acelerava a caminhada – SE FOSSE MEU EU TE DAVA!
Novamente atenta, pensei:
- Será mesmo comida ou será para se drogar? Ah! Ele disse COMIDA e o que importa foi a alegria e verdade que eu vi nos olhos dele... Verdade ou alegria? Não importa... Não importa.
O que importa é que EU ACREDITEI NAQUELES OLHOS QUE ERAM PARA COMIDA. Não compete a mim saber a verdade. O que me importa e me contenta é o contentamento daquele menino.
Entrei no banco e contei o ocorrido para meu irmão que riu abertamente da situação. Saímos satisfeitos e com o coração leve eu fiquei. Os R$5,00 não eram mesmo meus e se fossem eu os teria dado porque naquele momento, naquela situação ímpar eu acreditei não serem para droga e não há contentamento melhor do que fazermos aquilo no qual acreditamos. Mesmo se errarmos.