Tardes Quentes de Uma Época Qualquer.
O Patriarca, do Outono do Patriarca, de Gabriel Garcia Marquez:
“Um homem que tem uma idade indefinida entre os 107 e 232 anos. Perdido nas troneiras da memória, dono de muitas vidas e muitas mortes, dele não se viam mais que os tristes olhos, os lábios pálidos e a mão pensativa dando adeus. Brincalhão e linguarudo quando na infância perdida, tornou-se meditativo e sombrio e não punha atenção no que lhe diziam senão que esquadrinhava a penumbra dos olhos para adivinhar o que não lhe diziam, e nunca respondeu a uma pergunta sem antes perguntar por sua vez: e o senhor, que opinião tem?
E de vadio e espertalhão que havia sido na juventude, tornou-se diligente até o suplício e caminhador implacável, resinou-se a amar por impulso e a dormir no chão, vestido, de bruços e sem travesseiro, e renunciou a suas vaidades precoces de identidade própria e a todo vocação hereditária de doirada veleidade”.
Savok Onaitsirk, 09.09.08.