"O TEMPO NÃO PÁRA" Crônica de: Flávio Cavalcante
O TEMPO NÃO PÁRA
Crônica de:
Flávio Cavalcante
Nossa! Como a gente não percebe. Este ano é para mim um ano de muita reflexão e dor. A cada data festiva natural ocorrida em todos os anos, fortes lembranças marcam a minha vida.
Dezembro de 2009, foi marcado completamente a minha vida pela partida da minha mãe de forma brusca. É como se o destino tivesse puxado o tapete sem nem dizer o porquê.
O natal daquele ano foi marcado como uma linda ceia feita por ela, coisa de costume todos os anos. A família imensa reunida e todos muito felizes, abriam os presente no amigo oculto. A vez da matriarca entregar o seu presente, causou estranheza em todos; pois, ela sempre foi do tipo de mulher, que não gostava de dar discurso ou coisa que viesse a lhe colocar em evidência em público.
Mas neste dia algo diferente estava acontecendo e ela brincou, bebeu, comeu e não conseguia esconder tanta alegria. Empolgação tamanha que não se conteve em pegar o microfone e fazer o seu discurso á parte, elogiando a união da família e agradecendo a Deus, muito emocionada os filhos que ele deu como presente. Foi algo inédito, que chamou a atenção de todos naquele dia 24 de dezembro de 2009.
No dia seguinte, ela amanheceu muito cansada e foi direto pra o sofá, coisa que não era de costume, pela forma de ser uma mulher elétrica e guerreira. Mas ficou deitada, chamando a atenção da minha irmã enfermeira Cláudia, que percebeu algo de errado. Resolveu tirar a sua pressão que estava muito alta.
Ninguém podia imaginar que a partir daí, estava prestes a uma mudança radical em nossas vidas, até para ela mesma que não aceitou nos deixar até o último momento, segundo mina irmã.
Os exames constataram que ela precisava fazer um cateterismo e ela foi submetida exames com muita urgência a fim de tentar reverter um quadro irreversível pelo destino.
Dia 29 de dezembro de 2010, eu havia falado com ela logo pelo telefone. Fiquei despreocupado; pois, pelo telefone ela me parecia tão bem. Inclusive havia me dito que já tinha saído da cirurgia e estava indo pra o CTI mas para ficar em observação. Foi a última vez que tive a oportunidade de falar com ela pelo telefone.
No final do dia, cheguei em casa. O mundo estava desabando com tanta água. Eram brabos trovões e réstias de relâmpagos. Um temporal daqueles. Foi em meio a este tumulto da natureza que recebi a triste e dolorosa notícia. Não me contive e entrei em prantos e desespero. Era praticamente entre véspera de ano novo e não seria fácil naquela altura um vôo comportando uma vaga de muita emergência. Mas graças a Deus foi possível, sim.
Não obstante a vida deu uma guinada de cento e oitenta graus na vida de toda nossa família e ainda hoje machuca cruelmente como uma ferida de difícil cicatriz.
Quase um ano se passou. É estupefato como as coisas se processam. Tudo na vida passou a ter um sabor diferente. Principalmente esse ano que todas as datas festivas representam pra gente a ausência dela.
Dia 29 de agosto fez um ano que ela me fez a última visita. Tirei férias pra curtir a sua presença e passar o meu aniversário dia 03 de setembro comemorando também a sua chegada. Neste dia ela me acordou com uma torta enconfeitada com uma vela acesa e cantando parabéns. Foi o dia mais feliz da minha vida. Dia 29 de setembro ele retornou para Maceió, sendo a última vez que a vi com vida.
O tempo pode de ser duvidoso e cruel para nós. A roda gigante pode não parar, deixar muitas incertezas, mas a única certeza que temos nessas vira-voltas é a inevitável partida da mesma forma que viemos.
Flávio Cavalcante
- FIM –