VENCENDO DESAFIOS
Vou lhes contar rapidamente aqui a minha estória.
Obviamente que é uma longa estória e não caberia numa crônica ou num conto. Mas vou contar aqui como foi que venci os desafios.
Nasci num lar pobre e feliz. Meus pais eram muito simples e trabalhadores. Lutadores mesmo. E creio que aprendi com seus exemplos a também ser uma guerreira. A não desanimar nunca.
Tive uma infância humilde, mas rica de afeto.
Quando me chegou a adolescência junto com ela chegou-me o sofrer. Estive por alguns anos numa triste condição. Doente numa cama eu quase sucumbi, mas era ali que aprenderia mais como vencer desafios.
Os primeiros passos que dei depois de tantos anos numa cadeira de rodas foram como os de um bebê. Trôpegos, incertos.
Mas decisivos.
Eu nunca mais me deixaria abater, foi a promessa que me fiz.
A vida me reservava tanta coisa ainda.
Quase morri de dor quando meu primeiro filho esteve às portas da morte com um seriíssimo problema renal e depois com sua luta durante muitos e muitos anos com uma visão sub normal.
Só que ainda me reservava mais dor o viver.
Sofri com problemas de saúde consecutivos, mas sempre lutando, sempre superando e não deixando morrer o sorriso na minha face.
Quando não era um problema era outro e eu ia como uma guerreira, trocando as armas e não me entregando.
Vieram dias duros. Foi quando tivemos uma crise conjugal tremenda.
Resultou na separação que foi muito dolorosa. Mas algo pior me aguardava. Um câncer se instalara em meu corpo.
Mais cirurgias e, eu que já havia passado por dez intervenções cirúrgicas, passei por mais quatro.
A cura me chegou e junto com ela uma única certeza. Que eu era uma guerreira incansável e nada me derrubaria.
Hoje, dois anos depois da separação e, um ano e meio depois das cirurgias do CA, vivo sorrindo. Voltei a estudar. Danço, canto, aprendo a representar.
Curto intensamente a vida, meus filhos queridos, meus familiares, meus amigos.
A cada manhã eu penso: não tenho ontem. Ele está morto. Não me pertence mais. O que tenho é o hoje. Um presente dos céus pra mim.
Não questiono como será o amanhã, se ele vai existir ou não pouco me importa.
A certeza que tenho é do dia que me chega e ele vem como um presente, porque aproveito cada instante como se fosse o meu último.
Encontrei a plenitude de meu ser, encontrei também a felicidade e acho tudo tão simples, tão claro.
A vida é uma escola aonde vamos aprendendo. Nosso ser vai evoluindo, evoluindo e, por fim, vamos alcançando a compreensão das coisas.
Talvez eu esteja nesta vida expurgando atos ruins que fiz noutra. Isto num modo de entender que me pertence e pode não lhe pertencer.
É uma resposta consoladora para mim e ela me traz paz. Sinto-me bem, como quem tinha dívidas e as esteve pagando.
Se estou errada ou não em pensar desta forma não sei, mas pelo menos ela me serve como um argumento. Mais que isso. É a minha base de fé.
A guerreira lutará até o fim de seus dias... porque um dia eles findarão, mas no seu tempo certo. Com todo os débitos pagos, com um ser mais fortalecido.
Então sim descansarei em paz, ou continuarei a buscar ainda mais conhecimento. Ainda posso ter muitos mais degraus para subir.
Quem é que sabe?