O CHEIRO

Interessante como o cheiro, ou mesmo a lembrança dele, tem a capacidade de nos levar, através do túnel do tempo, a longínquas distâncias.

De repente, não mais que de repente, me lembrei do cheiro e do gosto do purê de batatas, cheio de manteiga, que minha mãe fazia quando éramos crianças. Isso me levou à nossa casa, ao quintal de terra, às brincadeiras que fazíamos, meus irmãos e eu, ao fogo de carvão que usávamos para pegar a brasa e jogar sobre o mate com açúcar e que exalava um cheiro delicioso, as festas juninas que, naquele tempo, eram feitas em dias de frio, diferentemente das de hoje, com um mês de junho de 30 graus.

O cheiro pode nos fazer lembrar de uma pessoa que amamos na juventude e é como se ela estivesse ali, ao nosso lado. Com um pouco de imaginação poderemos reviver aqueles momentos de beijos roubados, de abraços apertados, de desculpas inventadas para podermos sair à rua e passar na porta do ser amado.

Tenho a impressão que os cheiros foram mais importantes para mim do que o próprio objeto provocador do cheiro. Lembro-me dos bolos que minha irmã fazia nas tardes de sábado e que enchiam a casa com aquele aroma inconfundível. Eu aproveitava o cheiro o máximo que podia porque o bolo, com aquela família grande, se acabava em 10 minutos.

Ainda hoje sou uma grande apreciadora dos cheiros. Mas é claro, existem também os cheiros desagradáveis.

Comida queimada, por exemplo. Isso me acontece muitas vezes quando eu deixo uma panela no fogo e vou ler na sala. Saio da realidade, entro no sonho que o romance me oferece, sofro e me alegro com os personagens e nem me lembro mais da panela no fogo. Logo sinto um cheiro horrível e a primeira pergunta que me vem à cabeça é: Meu Deus! Como alguém pode deixar a comida queimar desse jeito?

Logo me lembro que a comida é a minha, que eu sou um ser real, não como os da ficção e que também preciso comer, diferentemente dos personagens que me tiraram da realidade.

Outro cheiro que me faz muito bem é o cheiro do mar. Adoro o cheiro e senti-lo ouvindo o ruído das ondas é um grande calmante para mim.

Quando saio para fazer as minhas caminhadas vou colecionado os cheiros. Pessoas muito perfumadas, já pela manhã, me dão a impressão de que elas tiveram um programa na noite passada e não tomaram um banho na manhã seguinte.

Cheiros de colônia me lembram os namorados anteriores e aí tenho pensamentos e recordações para o dia inteiro.

Que bom termos esse sentido aguçado, principalmente na hora do amor. O cheiro do amor é inconfundível e, junto com os outros sentidos, nos leva ao paraíso.

Edina Bravo

edina bravo
Enviado por edina bravo em 01/10/2010
Reeditado em 29/05/2013
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