Solilóquios de um Murmurante.

Quão ínfima a parcela de vida que nos cabe no espaço-tempo. Poderia-se dizer um milionésimo de segundo comparado à vastidão do tempo, ad infinitum.

É curioso pensar na vida desta forma. Deixa-se de lado um pouco o orgulho e a ambição que norteiam nossos dias-a-dia, para cairmos na real de que materialmente não somos nada, absolutamente nada. Nossa vida é insignificante. Um sopro no espaço; o mínimo dos mínimos.

Imagino os bilhões de seres humanos que já pisotearam o solo terrestre desde que o Mundo é Mundo; quantos não respiraram este oxigênio, beberam esta água; sonharam e derramaram lágrimas neste solo fértil. Pensando desta forma percebo que somos todos feitos da mesma composição: poeira cósmica.

Que contribuição para a vida teria a percepção de uma centelha de pensamento, como o fato de, sem mais nem menos, ouvir vozes conhecidas vindas do interior de uma residência situada numa rua vazia de uma cidadezinha do interior do Estado de São Paulo, Brasil, num dia qualquer, seco e ensolarado de inverno? Que importância teria isso para o natural desenrolar do tempo? A não ser para o Poeta, nada.

Seria como se nada tivesse acontecido, assim como a grande maioria das vidas que passaram pelo planeta até agora são como se não tivessem de fato existido, mas existiram, e deixaram de alguma forma sua marca no planeta. Sobretudo sobrevivem, mesmo que por breve período, na lembrança de seus familiares. Porém, logo após são esquecidos de vez, jogados no arquivo morto da existência. Por isso tendemos a buscar a gloria, a fama e o reconhecimento do maior número possível de pessoas. Tem-se como uma maneira de driblar a morte, permanecendo o mais tempo possível na lembrança dos demais. É quem seriam esses demais, além de nossos familiares e amigos próximos? O artista busca a eternidade através de sua arte; o cientista pelos seus feitos para a humanidade; o atleta pela marca esportiva histórica; o herói pelos seus feitos de bravura e honra, seguidos ainda por pessoas cujas metas aparentemente representam pouco historicamente, tais como ser lembrado por ter fisgado o maior tucunaré da região da alta mogiana, ou ter o nome batizando uma rua ou viaduto, creche ou coisa e tal, ou, quem sabe ainda, ser imbatível por três anos seguidos no campeonato de queda-de-braço do boteco do seu Joaquim .

Pensando bem, queira ou não, por mais modesto que seja o sujeito, no fundo, no fundo, anseia por uma maneira de perpetuação.

Abraços a todos!

Savok Onaitsirk, 03.08.06.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 01/10/2010
Código do texto: T2531201
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