Espera

Uma hora, duas horas. Quanto tempo mais esperaria? Ela já estava cansada daquilo, não queria mais esperar.

Três horas. Quatro horas. Não iria mais esperar. A essa altura ele já sabia que ela não viria.

Só mais uma vez. Pensou ela. Dessa vez ele disse que viria. Mas estava muito descrente. Sabia que daquela vez não seria diferente das outras vezes, mas não fazia mal, não iria fazer diferença esperar sozinha apenas mais uma vez.

Ele chegava bem na hora no local marcado, sabia que não precisava e ela provavelmente não iria, mas ele tentaria apenas mais uma vez. Sentava-se em um banco feito de pedra, que parecia mais ser uma decoração do que para ser usado. A paisagem daquele lugar era linda, era primavera e os mais variados tipos de flores com as mais variadas cores estavam se abrindo e crescendo. Do outro lado daquela ruinha de paralelepípedos vermelhos e já um tanto gastos ele podia ver outro banco como aquele em que estava, e naquele banco uma linda jovem com a bolsa ao seu lado. Ela olhava a paisagem bastante distraída, provavelmente estaria esperando seu namorado, e por um momento pensou em como seria bom ter uma namorada que chegasse na hora, ou que pelo menos aparecesse.

Ela já estava ali esperando sentada no banco há algum tempo. Ele não vem. Sua consciência tentava alertá-la. Aquela frase parecia impregnada em todas as partes de seu ser. Mas ela ainda tinha um restinho de esperança, e se ele estivesse quase chegando? Distraíra-se olhando algumas orquídeas que cresciam numa árvore ali perto, realmente aquela era a melhor época do ano para se visitar um jardim, a primavera. Ficava enrolando naquele lugar, tentando pensar em outra coisa para se acalmar, já se passara mais de uma hora, mas queria continuar esperando. Observava os casais passando por ali, felizes, rindo, juntos. Foi então que encontrou alguém só. Ele estava sentado no banco quase à sua frente, parecia esperar alguém, claro, ninguém iria a um lugar como aquele sozinho.

Duas, três horas. Ele já tinha desistido da idéia que ela apareceria. Estava sentado apenas esperando que alguma coisa acontecesse para se levantar, talvez juntando forças para ir à casa dela simplesmente para terminar aquele relacionamento. Foi tentando encontrar uma razão para ainda estar ali que percebeu que aquela moça ainda estava esperando alguém. Tinha o rosto desanimado, apoiava-o sobre uma das mãos e o olhar estava no chão. Perguntava-se se ela estaria sentindo o mesmo que ele.

Suas forças já haviam desaparecido. O cansaço consumia-lhe constantemente, a cada segundo, mas não um cansaço físico, e sim mental, um cansaço impossível de se ignorar. Nem contava mais quanto tempo estava esperando, não tinha forças para levantar o braço e pegar o relógio. Nem sabia mais porque estava ali naquele estado, talvez apenas juntando mais raiva, mais lágrimas. Logo reparava que o rapaz que ficara ali tanto tempo sentado já estava se levantando, ainda sozinho, passou-lhe então pelos pensamentos se ele também estava tão desanimado e cansado quanto ela. Talvez ele a entendesse, e num ato desesperado de sua alma por alguém que a ouvisse e a ajudasse a palavra que saiu de sua boca, tão baixa soou em sua cabeça como um grito de socorro:

- Olá.