Em noites de lua cheia
Eu devia ter sido barrado na porta na primeira noitada. Mas já que sai de casa com salto alto dourado tive que dançar a noite inteira na boate enfumaçada, e senti na boca o forte gosto da luxuria. Até porque antes a vida não estava boa, meu coração andava carente e eu não encontrava o amor-da-minha-vida pelo Google. Ele apenas não estava, e por isso eu cansei de procurar...
E mesmo assim e como sempre a vida segue: normalmente. E eu em pleno trabalho ando ouvindo músicas animadas. Sigo em processo de mapeamento, conhecendo rapazes perfeitinhos quase criados em laboratório. Eu fico sentada, observando debochada. Quando um deles um dia será real ou quando eu vou abraçar o abraço certo? Abrir o zíper certo? Dar-me a quem me merece? Neste meio termo, se eu beber demais e perder a comanda ou a cabeça? Quem irá me ajudar?
Andam me falando que os trinta anos trouxeram-me a adolescência de volta. Mas é a vida que parece um set de música, e nela apenas o ritmo anda variando... Hoje cansei do peso, não consigo mais entender a cor roxa, a não ser que ela venha de um machucado. Cansei do vazio, do peso. Hoje é dia de brincadeira, mesmo embaixo da chuva... E entenda isso é muito sério, muito sério mesmo, meu lápis não escreve mais, quebrei a ponta e as lamúrias. E a única coisa que eu tenho hoje é um coração bom. Nem mesmo se ainda for de acrílico, e no final das contas é isso mesmo que realmente importa? Até porque quando ele bater, eu vou saber...