ESCOVA DENTAL
Escova dental
Dona Circe é uma velhinha lúcida, de 93 anos, muito arrumadinha, sempre combinando o sapato com a bolsa, os cabelos branquinhos sempre bem penteados e um perfume suave. Tem a voz doce e me procurou pela primeira vez, porque uma amiga tinha dado o meu endereço e telefone dizendo que eu era o melhor dentista que ela conhecia.
Fiquei feliz com o elogio e mais feliz ainda em poder tratar de tão agradável senhora.
Ela me disse que já estava há dias para me procurar, mas que a amiga dela, mais jovem do que ela, tinha demorado muito a lhe dar o meu endereço porque havia se esquecido onde havia guardado o caderninho de notas. Veja você, uma mulher jovem, de apenas 83 anos e já com a memória fraca! Ela falava isso com um certo orgulho, por ter um cérebro em plena forma.
Logo na primeira consulta vi que ela não estava lavando os dentes tão bem quanto deveria. Recomendei-lhe uma escova elétrica, o que facilitaria a limpeza.
Na segunda consulta vi que o problema continuava.
- Dona Circe, a senhora comprou a escova?
- Comprei sim, meu filho.
- E está usando direitinho?
- Estou.
O tempo passava e eu não via melhora na limpeza dos dentes dela.
Insisti mais uma vez e lhe perguntei se ela estava tendo alguma dificuldade no manejo da escova.
Ela então confessou que estava usando a escova elétrica, mas que não ligava na tomada não.
- Mas dona Circe, se não ligar na tomada ela vai fazer o mesmo efeito que uma escova comum.
- Sabe o que é, meu filho, na primeira vez que eu liguei, ela começou a tremer na minha mão, eu me assustei e larguei ela no chão. Ela ficou estrebuchando lá, o que me fez lembrar da minha neta, que fica igualzinha quando briga com o namorado. Aí eu puxei o fio da tomada e tive até que tomar água com açúcar pra me acalmar.
De hoje em diante não recomendarei mais a escova elétrica para senhoras muito idosas. Sei que muitas pessoas, até mesmo bem mais jovens do que dona Circe, têm uma certa aversão à tecnologia. Enquanto isso as crianças de um aninho já sabem pegar o controle e ligar a TV, como aconteceu essa semana com o filho de um amigo. Ele desligou a TV e o guri, de um ano e dois meses, pegou o controle e ligou-a novamente, como se dissesse para o pai: Ô cara, você não vê que eu estou assistindo ao jogo?
Edina Bravo