SESSENTA E QUATRO QUINTAIS
Estou ficando velho, porém o tempo não ameaça como antes. Correm a meu favor os dias de temperança. Já não saio tanto de casa, mas as amizades continuam aumentando. O mundo virtual tratou de compensar algumas impossibilidades e inseguranças dos dias atuais. Os amigos me vêm visitar nos sites de relacionamento e trazem votos de felicidades, de boa passagem pelo dia que lembra a data do nascimento, de esperanças para os dias seguintes... . Há tanta gente boa no meu rol de amigos que me sinto um ‘monarca’ no reino da vizinhança. Talvez o rio esteja perto da foz, mas é, nesta quadra, mais profundo e menos revolto Um naco de sabedoria me salva de alguns indesejáveis incômodos. A língua já não é tão solta e mais e mais admiro a simplicidade. Algum feijão e arroz para o estômago e vinho tinto para os neurônios celebram de quando em vez a verticalidade do esqueleto. Há um sol no coração que não deixa de brilhar e a cabeça se aventura mais e mais nos quintais da Palavra.
– Do livro O NOVELO DOS DIAS, 2010.
http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/2529328