45 ANOS DE NÚPCIAS
Hoje, manhã de 21 de novembro de 2009, acordei com aquela sensação de todas as manhãs, o cheiro do homem que há 45 anos se debruça no meu corpo e me beija a boca sonolenta. Como de hábito, finjo-me adormecida para, em seguida, puxá-lo de volta aos meus braços. Pode parecer rotina, mas é uma história de amor bem real.
Tão logo nasci, ali estava o menino de 3 anos de idade, primo em primeiro grau, nascido para ser o meu companheiro. Não fora casamento arranjado, antes, uma predestinação. Nenemritinha para Artulino. O tempo passava, ele, em Floriano, eu, em Simplício Mendes. Férias escolares – intervalos das namoradinhas florianenses e dos namoradinhos simplício-mendenses, com direito a troca de olhares e bilhetinhos ilustrados com flores. Até as próximas férias.
Mais tarde, tudo se repetia, ele com as namoradas cariocas e eu, com os gatinhos de Teresina, até que as férias nos unissem. Reencontros cinematográficos, com direito a troca de beijinhos na boca e só. Algumas cenas de ciúme de ambas as partes.
Um dia apareceu um pernambucano, querendo casamento. Corri ao Rio de Janeiro: “vou me casar com um rapaz chamado…” A resposta foi imediata: “Não! Vai se casar comigo”. – “Sim! Casar-me-ei com você”. (Àquela altura eu já havia lido todos os grandes escritores, e começava a falar difícil).
Casados, vieram três varões. Os desejos de grávida, frutas cítricas, tipo “cajá”, todos satisfeitos, em pleno Rio de Janeiro.
Sedução prá cá, sedução prá lá.
Volta ao Piauí. “Bodas de Prata”, com direito a celebração religiosa – reafirmação do casamento, jantar com velhos e novos amigos, no salão nobre do melhor hotel de Teresina.
Formatura dos filhos, festas, brindando e dançando, agarradinhos.
Morte de um filho, lágrimas se misturando.
Casamento dos outros dois, felizes, mas sentindo a falta, no convívio diário.
Depois, um neto e mais outro em andamento, vovós felizes.
De repente, 45 anos!
Meio brincando, meio sério, ele diz: “esta é aquela que me aquece no inverno e me faz suar no verão”. Ele, 73 anos, eu, beirando os 70. Continua me deixando constrangida: “ela é a minha Viagra”. “Se virem uma loura… é a minha!”.
Faço por onde…
45 anos de amor-paixão: transubstanciando o corpo em copo inundado do vinho embriagador da perda de mim nele.
Levantemos as taças e brindemos com champanhe e velas perfumadas!