CLAMOR CULTURAL
Oito de agosto de 2001, Baden Powel apresenta-se no programa MPB/TV Cultura, interpretando músicas de sua autoria em parceria com Vinícius de Moraes e Paulo César Pinheiro, levando-nos a recordar épocas áureas da nossa música...."E qualquer um pode se enganar/você foi comum, pois é,/você foi vulgar/Não sei que fui fazer/se me dispus te acompanhar/porque pra mim você morreu/você foi o castigo que Deus me deu.../... E como sempre se faz, aquele abraço, adeus e até nunca mais..."
Nesta apresentação épica da melhor fase da nossa MPB, Baden Powel interpretou músicas de Tom Jobim, Dolores Duran e de outros grandes compositores brasileiros. E deve ter feito corar de vergonha, diretores de canais de TV, com algumas exceções, a exemplo da Rede Vida que apresenta aos sábados e domingos bons programas musicais, Amaury Jr. da Rede TV com o Flash, entre poucos; as demais redes de TV, atualmente competindo entre si com o que de pior existe, não só na música, mas nas tele-novelas, invadidas por mauricinhos e patricinhas, com enredos que fazem da concorrência entre pais e filhos... até nos amores... seus temas principais, quando não somos compelidos a assistir melodramas mexicanos abaixo da crítica.
Poucos dias depois, Baden morre no Rio de Janeiro...
Nos dias atuais, os shows televisivos apresentam sempre os mesmos personagens. Duplas sertanejas, sertanejos solo, "bom-xim-bom-xim-bom-bom-bom", "boquinha da garrafa", puro besteirol nos musicais e tele-novelas que aniqüilam a criatividade dos artistas, pois o que vale não é o talento, mas o cheque das gravadoras, dos patrocinadores de cervejas, portais de internete e remédios milagrosos, que sustentam os programas, enquanto as audiências despencam.
Quem pode assinar TV a cabo, assiste boas programações; o resto que se dane...
Os jornais de TV transmitem as mesmas notícias, às vezes com as mesmas palavras. Os entrevistados de um programa são os mesmos entrevistados pelas demais emissoras. Os cantores são os mesmos em todos os canais... Até os comerciais, idênticos, são apresentados ao mesmo tempo em canais de TV diferentes, um verdadeiro suplício.
Entre as boas opções, está a TV Senado. Na parabólica, canal 10. Além da programação política, a TV Senado tem uma programação cultural excelente. Ressalte-se o programa "Quem tem medo da música clássica", apresentado pelo ex senador, jornalista Arthur da Távola, que o eleitor carioca derrotou para substituir pelo bispo Crivella, da universal. Às tardes, o Sem Censura, de Leda Nagli, na TVE, é muito bom. Bons ainda os debates das segundas a noite na TVE, bem assim as entrevistas em "Conexão" com Roberto D'Ávila, o "Observatório de Imprensa", com Alberto Dines, as entrevistas de Antonio Abujamra, aos domingos e grandes documentários.
Passa da hora de se unirem artistas-compositores (os vivos), a exemplo de Chico Buarque, Caetano, Gil (como ministro é péssimo), Paulinho da Viola, Dominguinhos, João Bosco, Elomar, Geraldo Azevedo, Tom Zé, Vital Farias, Toquinho e tantos outros, para uma gigantesca passeata em Brasília que só exporta para o país e para o mundo, escândalos de corrupção, um atrás do outro.
O Brasil precisa acordar para esta realidade. Garanto que a repercussão seria grande, dentro e fora das nossas fronteiras. Chega de tanta falta de respeito para com a arte brasileira.
Alô atores e atrizes substituídos pelos mauricinhos e patricinhas das passarelas nas tele-novelas, uni-vos e juntai as vossas forças para despertar o país contra a alienação a que condenaram a nossa arte.
Poetas, escritores, musicistas, atrizes, atores, correi... É chegada a hora de cantar e gritar, a verdadeira marcha para a nossa arte libertar...