PERDIDO EM PARIS

Alguns anos atrás a gente aprendia francês no ginásio. Não dava pra falar com os gringos, mas me lembro até hoje da letra da Marselhesa.

Mais tarde, para ler uns gibis do Asterix no original, tive que reforçar meu francês e acabei tendo gás para ler outras obras.

Por isso, quando fui fazer minha primeira (e única) excursão pelo Velho Mundo estava afiado na língua de Voltaire. Sabia pedir vinho, água mineral e coca-cola.

Em Paris, ficamos hospedados num excelente hotel, não me lembro do nome, digamos que fosse Hotel Paris. Da janela eu podia ver o rio Sena e a ponta da torre Eiffel. Quem pensa que no café da manhã nos hotéis de Paris são servidos todos os tipos de queijo, doces e patês, pode ir esquecendo. É pão, uma banana e um potinho de geléia, daqueles distribuídos nos aviões.

Após esse café nababesco, o ônibus da excursão nos deixou nas imediações do Louvre para fazer compras. Enquanto os companheiros se distraiam comprando perfumes e réplicas da torre, fui caminhar ao longo do rio Sena, onde havia artesões, pintores e comerciantes de antiguidades. Comprei dois Renoir, o vendedor garantiu que eram autênticos.

Depois encontrei um médico brasileiro que estava em outra turma, mas nos havíamos cruzado em alguns hotéis. Por coincidência, estávamos ambos no Hotel Paris. Resolvemos então dispensar o ônibus que nos buscaria e ficar mais um pouco ali, depois pegaríamos um táxi.

O médico estava com o endereço do hotel. Embarcados no táxi, notei que o danado do chofer dava voltas, cruzava ruas e nunca chegava. De repente, parou o carro diante de um hotelzaço, que não era o meu, mas tinha quase o mesmo nome, Hotel Paris Internacional. O meu era Paris Residence. Confuso, deixei o táxi ir embora.

E agora? Onde eu estava? O lugarzinho era agradável, mas a ruas estavam desertas. Não sabia para que lado ir. Estava começando a escurecer e me bateu o desespero. Quando mais andava, mais ficava perdido. Paris não é São Chico.

Depois de andar um pouco a esmo, encontrei duas senhoras que conversavam diante de um portão. Foi aí que meus rudimentos de francês me salvaram: elas me indicaram um ponto de táxi numa das ruazinhas. Tive sorte, pois em Paris até os haitianos lhe tratam mal. Tentando explicar aos taxistas a localização do meu hotel, só lembrei que o nome do porteiro era Jacou (pronuncia-se Jacu; se fosse no Brasil era apelido). E não é que um deles era cunhado do tal de Jacu?

É, leitor, afinal Paris não é tão diferente de São Chico.

Hilton Gorresen
Enviado por Hilton Gorresen em 29/09/2010
Código do texto: T2527608
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