Analfabeto digital?

Está em voga a expressão “analfabeto digital”. O meio acadêmico e a sociedade culta incorporaram a idéia de que existe um novo tipo de analfabetismo. Na verdade uma expressão altamente preconceituosa. Essa suposta alfabetização técnica só representará um estágio novo no desenvolvimento da humanidade diante da ocultação das suas inúmeras falhas em seu processo simples de uso.

Primeiro: Uma ação simples tornou-se altamente complexa numa quantidade enorme de escolhas. Segundo: cada ação implicada num processo criou o novo incapaz de conhecer todos os mecanismos do sistema. Terceiro: surgem variantes quanto maior a integração dos componentes. Ninguém é alfabetizado netas condições constantes de mudança com o nome delicado de aprimoramento.

Conheci tecnólogos experimentados num laboratório e eles também solicitam ao colega do lado alguma resposta muitas vezes banal em termos de complexidade. A idéia da máquina de inteligência pressupõe um saber profundo quando dominamos todas as suas funcionalidades. Porém para cada nova ação ela restabelece um novo vínculo com nosso suposto analfabetismo. Temos o alfabeto criptográfico de raiz dispensável para usuários não iniciados, analfabetos em HTML, além de novos inventos para sustentar o sentido de concentração de todas as técnicas reunidas. Ao lidar com um computador percebemos que existem espaços onde vale dispensar a necessidade de ler ou escrever. Dispensamos nesse efeito o ato de escrever e redigir e o que é pior até pensar. Onde está a máquina de inteligência neste sentido prático? Na idéia de que sabemos utilizar esta ou aquela ferramenta? Por que sabemos decifrar códigos criptográficos, mas não sabemos escrever sequer um bilhete declarando ao mundo a falta de algum item na geladeira?

Nossa cultura de transplantação acostumou-se a compulsão de algo que represente um sucesso totalizado. Estamos sendo levados a crer que a alma de um computador é o seu mecanismo interno, seus componentes, a sua linguagem de máquina para o usuário humano compatível. Somos convidados a extensão total do domínio técnico que na extensão é repleto de falhas do tocante a qualidade. Basta observar a imagem desandada de uma webcan ou o tempo insuportável de um download. A técnica depende de um relativo sucesso e a exclusão uma reflexão longe dela.

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