Onde pus eu os meus sapatos?...
Há uma linha quase invisível que nos separa do conhecimento. Não da sabedoria, que, quem sabe, sabe. Do conhecimento. Do verdadeiro sentido das coisas. Deus, que é omnisciente, não soube como munir-nos dessa capacidade e, à cautela, deixou-nos a faculdade da busca, da dúvida, da aprendizagem. Mas cegou-nos às certezas, para nosso próprio bem.
Pois se, com dúvidas, nos apressamos a julgar, a vilipendiar, a achincalhar, a apedrejar quem, sob a nossa opticazinha particular e limitada (outro dos nossos "handicaps"...), sai dos nossos ideaizinhos particulares - que faríamos, se donos e senhores de certezas?...
Nada é absoluto, neste nosso obscuro caminhar. Nada é nítido, delimitado, fidedignamente ponderável, isentamente apreciável...
Eu costumo dizer que não gosto de julgar calçada com os sapatos de ninguém. Mas, como aprendiz que sou, vou reavaliar a hipótese de o ideal ser, de vez em quando, calçarmos o sapato do outro. Daquele que nos julga, ou daquele que nós julgamos.
Porque o conhecimento pode ser-nos vedado. É. Mas somos todos perfeitamente capazes de aprender e alargar as vistas. Basta mexermo-nos, para ter logo outra perspectiva.
(Onde pus eu os meus sapatos..?)
E, na dúvida e na obscuridade, cuidemos onde pomos os pés... é que podemos estar a pisar alguém, ou a arriscarmo-nos a ser pisados.