Eleições em uma Democracia
ELEIÇÕES EM UMA DEMOCRACIA
(crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 29.09.2010)
Numa Democracia, eleições fazem parte do exercício da cidadania e, quanto mais acontecerem, mais contribuirão para o aprimoramento das instituições e para o acerto das escolhas coletivas. Colocam-se frente a frente projetos distintos para a cidade, o estado e o país e o eleitor faz, periodicamente, a sua escolha. Por mais que nos doa quando o nosso candidato, o nosso partido ou a nossa ideologia são derrotados, apenas nos restará aceitarmos o veredito e, fazendo oposição, nos prepararmos melhor para a próxima eleição, logo ali à frente.
Nestas eleições, a oposição cometeu o erro capital de partir com tudo para cima do Lula - o qual, além de não ser candidato a coisa alguma, desfruta de uma aprovação estrondosa de 80% dos brasileiros; apenas 4% de nós classificam como péssima a sua atuação. Bateu no cara errado e esqueceu de discutir projetos e alternativas. Esqueceu, aliás, de fazer oposição durante os oito anos em que foi oposição. Quando abriu os olhos, Dilma estava praticamente eleita já no primeiro turno.
Queiramos ou não, gostemos ou não, Lula é o presidente de todos os brasileiros, legalmente eleito em eleições livres e democráticas pelo mesmo povo que elegeu e reelegeu Fernando Henrique Cardoso.
Que fazer, então, nestes últimos dias antes da eleição? Criar, inventar ou descobrir, advogam alguns, um escândalo bem cabeludo, e propagá-lo aos 25 ventos. Feito com profissionalismo em cima da hora, o estrago pode ser fatal por não haver mais tempo para investigá-lo, sequer para contestá-lo e desmenti-lo. Ou seja: divulgar somente agora uma denúncia guardada por semanas é influir decisiva e desonestamente na vontade popular - é golpe. É obra de quadrilha, não de oposição, é deboche, não Democracia, é saudade da ditadura que prescindia do povo, escolhia novo "presidente", "governador", "prefeito" e senador biônico no escuro de salas enfumaçadas e premiava os amigos da corte, com os quais trocava favores. Muita gente fez carreira e dinheiro dessa maneira, e hoje posa de opositor impoluto.
Temos três opções bem distintas para o dia 3 de outubro: façamos a nossa escolha e respeitemos a vontade popular saída das urnas, pois ninguém pode se arvorar o direito de decidir em nome do povo - nem os iluminados, nem os intelectuais, muito menos os militares, a imprensa, os bancos ou as grandes empresas. Ou todos juntos.
(Amilcar Neves é escritor com sete livros de ficção publicados, diversos outros ainda inéditos, participação em 32 coletâneas e premiação em 44 concursos literários no Brasil e no exterior)