Ônibus

Sabia que amores podem nascer nas mais diversas situações? Há aquelas histórias de amor românticas, quase cinematográficas; há as rotineiras, que acontecem todo dia; e há as grotescas, que ninguém sabe se devem ser achadas bonitas, por serem histórias de amor; bizarras, por serem estranhas e diferentes; ou bonitas por serem entranhas e diferentes. Está é uma história verídica que aconteceu com um amigo meu essa semana, ele me contou hoje o episódio, e não pude deixar de notar que era um episódio de imparidade considerável, que merecia ser registrada, não necessariamente por mim, mas na falta de alguém melhor vai assim.

-Eu estava na primeira fileira do ônibus, de saco cheio, pois pego aquele ônibus todos os dias. Já estou de saco cheio dele. Juro que cogitava seriamente suicídio, só havia dúvida entre me defenestrar ou puxar a cordinha e não descer em cada parada até ser linxado.

O ônibus seguia o caminho, ou tentava, no meio daquele enorme engarrafamento na subida de Sobradinho, quando, ao parar num ponto, subiu a mais bela criatura que eu já vira neste mundo. Seus cabelos eram negros e lisos, e caiam por sobre a pele alva do rosto, este por sua vez formado por uma fina e viva boca, um nariz de uma curvatura e tamanhos perfeitos, bochechas coradas, não por maquiagem, mas pela natureza, olhos de ressaca, como os de Capitu, que te puxavam para aquele azul profundo, e parecia que queriam te engolir. Seu corpo tinha curvas suaves e perfeitas, que faziam todos os olhos seguirem aquele ser como girassóis apontam para o Sol, o seios belos e firmes, nem muito pequenos nem demasiadamente grandes, palpitavam sob a fina camisa branca que os cobriam. Suas coxas e o bumbum fartos estavam escondidos na saia preta que descia até o joelhos, e deixava a canela à mostra.

Essa moça maravilhosa tentou achar o dinheiro da passagem, remexia na bolsa, vasculhava em tudo, e nada desse dinheiro aparecer. Ela estava para entrar em desespero quando eu puxei uma nota de dois reais e a entreguei para o cobrador. A moça passou pela catraca, me agradeceu e sentou-se ao meu lado. Conversamos por um bom tempo durante aquele engarrafamento quilométrico. Descobri que ela trabalhava como secretária no Banco Central, e que morava em Sobradinho, perto de mim. Conversa vai, conversa vem, acabou 'pintando um clima' e quando descemos na parada e eu fui entrar na minha casa, que era mais perto da parada que a dela, ela ficou imóvel na porta, me encarando. Chamei-a para entrar e o resto nem precisa contar, não é, amigo?