O Porquê do Sensacionalismo...

Não estava mais disposto a falar do sensacionalismo que permeia a vidas das celebridades porque isso incomoda, já que as notícias sempre transitam a partir de algo nocivo ou de algum fato melancólico. Não são os fatos cotidianos que dão notícia, já que a mídia e as pessoas curiosas são versáteis em tornar um fato objeto de um grande conto. Ou seja, quem escuta um ponto relata um conto.

Diante desse quadro inerente ao grande vácuo que existe na personalidade do indivíduo, a maioria das pessoas vive à procura de algo novo, ou algo que se sobressai ao cotidiano. Daí a razão das notícias chegarem através de grandes manchetes quando exploram determinadas condições humanas que causam perplexidade. Isso é vivenciado diuturnamente nos jornais e nas revistas, pois nada chamaria atenção não fosse o impacto relacionado com o fato que deu origem à notícia. Uma manchete só será notada se causar sobressalto.

Assim, é pouco comum vermos notícias nos jornais que digam respeito às estatísticas ou às boas ações do ser humano. Raramente aparece aquele porteiro que achou uma sacola de dinheiro na rua – cuja soma poderia lhe garantir um futuro brilhante – mas optou por procurar o proprietário, para entregar algo que não lhe pertencia. Essa notícia só vem à baila porque se trata de algo espantoso, já que a maioria do brasileiro diria: - Que idiota! Eu não devolveria, pois essa soma resolveria todos os meus problemas financeiros. Acredito que esse seja o impulso de muita gente. Mas, o curioso é que essas mesmas pessoas são as que reclamam da desonestidade dos políticos e daqueles que se aproveitam da fraqueza dos excluídos da sociedade.

Dentro dessa ótica, não há dúvida de que os tais de paparazzi não desgrudam das celebridades, para poder revelar a intimidade de artistas de renome, por isso ficam fazendo vigília (feito urubu), em locais onde poderiam encontrar uma celebridade para colher possível situação que possa dar notícia.

Exemplo que me deixa aflito (não porque sou santista), mas porque as fontes das notícias permeiam o exagero quando falam de Neymar (jogador do Santos), como se ele fosse um bandido da Rocinha, ou alguém capaz de produzir buracos na vida das pessoas, apenas porque ao exercitar sua arte de jogar bola, por vezes, saltita mais do que deveria. Isso é motivo para que determinados cronista da nossa gloriosa Nação Tupiniquim se reúnam em programas esportivos; uns com espírito de punição, outros, com palavras de ordem para vociferar disciplina a tal ponto de esquecer a idade da pessoa em exposição. Qual o adolescente da idade de Neymar que não teimou com alguém mais velho, ou que – por força de sua etapa de evolução – tenha incorrido em desatinos que causam repreensões? Já esqueceram as ‘noitadas’ de Romário? Já se olvidaram das encrencas de Edmundo? Ambos foram bons jogadores; criaram obstáculos nos aspecto da disciplina, mas, fizeram história no mundo do futebol. Para mim foi muito infeliz o discurso daquele que foi considerado herói no episódio de Neymar e do ex técnico santista Dorival Júnior. Falo de Renê Simões que chamou o atleta de ‘monstro’, ao dizer que estamos criando um monstro. Mas o que foi que esse técnico viu dentro de campo. Hoje, ele explica que viu um rapaz teimoso que não se fez escutar quando advertido por alguém. Disse ele ao site Terra: "Eu gosto do futebol que o Neymar joga. Em nome desse futebol arte, fiz o meu chamado ao debate publico sobre esse menino, que é um fenômeno. Me chamou muito a atenção quando, no quarto gol, o árbitro o chamou para retornar ao seu campo e ele não deu a mínima. Eu disse ao árbitro: 'você tem responsabilidade na educação desse menino, você deveria ter marcado as faltas e mostrado o cartão'", comentou. "Tenho três filhas e as eduquei assim, chamando a atenção. Eu nunca quis o mal do Neymar, mas espero que ele e todo o futebol brasileiro tenham se incomodado com o fato", explicou René, que se disse fã do camisa 11”. É de se notar por essa declaração (desse que se diz educador), que ele não enxergou a dimensão do que disse, pois chamar alguém de monstro é algo abominável na minha modéstia opinião. Além disso, é alimentar as aves de rapinas que não querem ver o sucesso dos outros.

Por essas e outras é que quando vejo um aglomerado de pessoas, não me aproximo enquanto não souber do que se trata. Só chego ao local se for algo que posso contribuir, mas jamais me aproximo se for apenas para contemplar. A curiosidade é algo humano e se reveste de ingrediente importantíssimo na vida humana, mas desde que seja cultivada e regada conforme as necessidades de cada um. Notável que alguém se interesse pela ciência para aprender coisas novas e contribuir com a evolução humana. Indispensável que o aludo da Universidade seja curioso em aprender as matérias curriculares, pois será daí que tirará toda a base da sua existência. Absolutamente necessário que o operário aprenda a desenvolver sua atividade para poder produzir a contento. Enfim, entendo que devemos dosar essa nossa sede de conhecimento para o nosso bem, por isso devemos construir ao nosso redor um cercado que nos proteja do sensacionalismo. Só entendendo as questões que são importantes é que aprenderemos a dosar nossa curiosidade.

Eu absolvo o Neymar, pois se trata de um menino que talvez ainda não tenha aprendido lidar com o sucesso. Mas, não entro nessa de dizer que Renê Simões está certo, porque acho que – como educador – ‘pisou na bola’ ao fazer tal tipo de declaração. Pra mim sua manifestação não passou de sensacionalismo...

Machadinho
Enviado por Machadinho em 28/09/2010
Reeditado em 29/09/2010
Código do texto: T2526053