Nesta semana a Primavera me saudou. Em meio a tarde morna de começo de estação, sozinha, mexendo em meus tecidos e pinturas, escutei um barulho estranho, que vinha da sala.
          Como não ouvi barulho na porta de entrada, é obvio que ninguém chegara.
          Ao verificar a causa do ruído, me deparei com uma cena linda e rara, pois quem vive em apartamento sabe o quanto é raro isso acontecer: um beija-flor voando pela sala.
          Fiquei extasiada, maravilhada. Ele voava rente ao teto e pousava no lustre. Certamente tentava entender como foi parar alí, e como iria sair. Nas janelas há telas de proteção, por causa de minha princesinha de quase 4 anos. Então, não bastava escancarar a janela para o beija-flor sair.
          Pensei um pouco e decidi tentar pegá-lo. Assim o levaria até a janela. Lá fui eu.
          Subi em uma das cadeiras da sala de jantar, próxima ao lustre. É claro que ele fugia de mim, voando rente ao teto e novamente pousando no lustre.
          Eu me movia um centímetro por vez, em direção ao lustre, na tentativa de pegá-lo. Ele voando e pousando.
          Não sei a razão, mas de repente ele pousou e ficou. Ele imóvel, me olhando. Eu ... não tão imóvel, pois tremia não só pela emoção, mas pelo receio de pegá-lo e sem querer, machucá-lo. O silêncio era total, quase dava para ouvir nossos batimentos cardíacos acelerados.
          Cena inóspita caso alguém do prédio vizinho olhasse. Eu imóvel sobre uma cadeira, o braço estendido na direção do lustre. É claro que de longe não veriam o beija-flor, só a vizinha esquisita nesta posição.
          Devo ter permanecido assim por vários segundos, olhos fixos no pequenino, quando ele, subitamente, batendo suas asinhas na velocidade que só os beija-flores são capazes, se aproximou de meu rosto. Sentia o movimento do ar em minha pele, quando ele encostou seu biquinho no meu lábio inferior e saiu pela janela, da mesma forma que entrou.
          Fiquei imóvel por um tempo, sem saber ao certo se aquilo realmente havia acontecido. Desci da cadeira e fui à janela, mas não o vi. Fiquei alí parada, em silêncio, sentindo os aromas da nova estação.
          Aquele momento ... por mais que eu tente, nenhuma palavra é capaz de expressar o que senti. Só consigo dizer que me senti abençoada, saudada, tocada pelo Universo ... curada.
          Alí, parada, sozinha, é que realmente vivenciei a sensação do Pertencimento. A certeza de sermos todos creaturas, com a marca do Creador resumida em quatro letrinhas – CTGA. Somos compostos dos mesmos elementos que compõem as estrelas e planetas, como hidrogênio, oxigênio ...

          Se somos os seres pensantes, por que pensamos tão errado?

          Eu achava que sabia algo.









 

Imagem:  passaro-cosmico novacaotecnologica.com.br









SIMONE SIMON PAZ
Enviado por SIMONE SIMON PAZ em 28/09/2010
Reeditado em 31/10/2010
Código do texto: T2525965
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.