Outros Tempos - Música Sertaneja
Hoje eu acordei com aquela música sertaneja de meados dos anos 90 que ficou absorvida por osmose nos cérebros de todos os pobres mortais que viveram aqueles quase que inacabáveis anos!
Era engraçado como nossa gente parecia tão voltada para a música sertaneja - eu, inclusive! E não era só a gente do meio-norte que gostava da música não, era de norte a sul desse país varonil, que tocava tanto nas rádios como passava na nossa tevê, em qualquer emissora, a torto e a direito! Nosso povo era menos eclético!
Lembro das grandes duplas sertanejas da época, algumas realmente muito constantes, era o caso de Leandro e Leonardo, Zezé de Camargo e Luciano, Chitãozinho e Xororó, Rick e Renner (que na época não eram políticos, e faziam sucesso pra caramba com a música que mandava a gente grudar na cintura da moleca - a letra é o "ó", mas a idéia é boa!)... Gian e Geovane, Rio Negro e Solimões etc. Eu sabia a maioria das letras de cor, pois meu pai sempre comprava as "fitas" que os caras iam jogando no mercado sempre. Fazíamos a festa nos finais de semana ouvindo as mais variadas vozes sertanejas em nossa Radiola - a gente não chamava "som", e que, a propósito, ela era muito moderninha, além de ter dois lados pra rodar fitas, e LP, ainda era gravador e rádio, quanta tecnologia!
Algo que sempre cativou nosso povo, claro, não falando da música, era o fato da maioria dos cantores sertanejos terem nascidos pobres, sem muita expectativa, onde a maioria era obrigada a ir, desde cedo, trabalhar na roça, e abandonar os estudos. Era o fato dessa gente ter passado fome e frio, e mesmo assim, encontrar na música um jeito de mostrar para o Brasil para o mundo que eles também existiam, e que eram muito bons no que estavam dispostos a fazer, e o resultado disso, todo muito já sabe, sucesso a não tão longo prazo, num estilo musical que tomou um década inteira e que com certeza ainda deixa marcas por onde passa.
Eu gostava do Mundo Sertanejo, e cantava músicas de meus fãs sertanejos na minha escola ao lado de meu amigo Romário - depois de adulto percebi que não cantávamos nada, e que iríamos morrer de fome caso insistíssemos - mas era meu sonho ser cantor sertanejo, e não era só eu não, muitos moleques da minha idade cantava as músicas - muitas sem pé e nem cabeça - de trás pra frente e de frente pra trás, sonhando, quem sabe, em explodir nas rádios nos mais centrados devaneios como a nova estrela da música - pelo menos dava muito dinheiro, e era gostoso imaginar rodando o Brasil fazendo shows ouvindo os fãs que te amam e que morreriam por ti!
Mas muitas coisas desastrosas - fora o fato de sermos fissurados em muitas letras bobas - giraram em torno dos cantores sertanejos, muitas duplas foram separadas pelo único mal incurável na terra: a morte. É o caso, por exemplo, de Leandro, que morreu cedo, vitimado pelo câncer, ainda no auge da grande dupla Leandro e Leonardo, bem como do saudoso João Paulo, vítima fatal de um acidente de carro, deixando a dupla João Paulo e Daniel incompleta. O curioso era que os dois eram os primeiros nomes da dupla, e a segunda voz, coisas que fazem eu pensar que a preocupação de Teena (do Legendários - Rede Record de Televisão) com a saúde do pobre Chitão é válida... mas enfim!
Neste momento, enquanto escrevo, ouço aqui em meu computador a música "Pense em Mim", mas não é aquela de Darwin interpretado por Cheiro de Amor não, é o primeiro e mais famoso sucesso da dupla Leandro e Leonardo, que foi interpretada até em espanhol - e até acho que ficou melhor - aquela que na letra, um corno pede desesperadamente para que a mulher pense nele, ao invés de pensar no outro, e pede ainda para que ela chore por ele etc e tal. Na música ainda, o cara chama a mulher para pegar o primeiro avião com destino a felicidade, e logo em seguida ele fala que a felicidade pra ele é ela, aí eu não entendi mais nada! Se ela viajou sem ele então porque ele a chama pra pegar um avião? Enfim... como disse, estou ouvindo "Pense em Mim".
A década de noventa foi a Grande Década Sertaneja, e sobre isso não tenho dúvida. Viva a essa galera que marcou uma década, que vivi na pele também! A esse povinho humilde que vem do interior e mesmo sem estudos - muitas letras são a prova cabal -, conquistaram um lugar no mundo e um espaço especial no coração de muita gente.
E agora, pra finalizar, viva a música sertaneja que não morreu, pelo contrário, os novos adeptos resolveram continuar os estudos, entraram na faculdade e fez nascer agora, pra todos nós, o Sertanejo Universitário: a saga continua... mas já são outras histórias... e outros tempos, espero que com letras menos melodramáticas!