ARROZ COM LAMBARI: O prazer nas coisas simples da vida.

É fato, por mais que busquemos melhor condição financeira, sucesso na carreira, satisfação nas coisas materiais, não há sentimento melhor e mais prazeroso do que aquele das coisas simples e muitas vezes não damos o devido valor. E destes momentos jamais nos esquecemos. Quem é que não gosta de um abraço caloroso, de uma simples lembrança no aniversário, de um elogio, de vislumbrar o pôr-do-sol, um pãozinho com manteiga na chapa acompanhado de um cafézinho com leite, etc...?

Certo dia estava eu almoçando e com um bom apetite, diria até que de certa forma uma fomezinha, tanto que estava comendo somente o arroz branquinho, soltinho, recém-cozido. Uma delícia! E neste ato me lembrei de fatos de muito tempo atrás, da época de garoto, de quando ia pescar com meu pai, meus irmãos e meus tios. Geralmente locais onde ficávamos o dia todo na beira do rio, às vezes só enganando a barriga com lanchinhos e refrigerante, coisas que não sustentam de verdade, como um bom prato de comida, por isso a fome não era contida. Mas eram momentos bons, momentos-família, de muito aprendizado, porque sempre saíam aquelas conversas entre meu pai e meus tios, coisas da experiência que se aprende ao longo de uma vida, histórias deles que sempre fiz questão de ouvir para aprender mais sobre a vida, como que numa tentativa antecipatória de "adquirir experiência" de forma empírica.

De noite, quando chegávamos em casa era a hora do trabalho de limparmos os peixes, eu e meu pai na beira da pia da cozinha, dividindo os exíguos espaço e filete d'água, cada um com sua faca na mão, abrindo, tirando as tripas, as escamas e continuando a jogar conversa fora. Às vezes um tirando sarro do outro, ou tirando sarro dos tios, coisas como quem pescou mais, quem pescou menos, quem protagonizou o melhor tombo, quem pagou o maior mico, entre outras coisas acontecidas no decorrer dia à beira do rio. Enquanto isso, minha mãe que também participava da conversa, ao mesmo passo que nos colocava a par do acontecido em casa na nossa ausência, com as situações engraçadas que também vivenciara com as minhas tias, ia preparando aquele arroz branco, temperando os peixes que estavam limpos, na maioria das vezes lambaris, com algumas –raras- exceções de tilápia e pacú, ou cascudo, mas predominavam os lambaris. Quando terminávamos era a hora de tomar um banho, sempre meu pai primeiro, que era mais rápido, depois eu, que gostava um pouco mais de enrolar e relaxar no banho, comum a maioria dos adolescentes. Meu pai sempre terminava com os peixes dele primeiro também. Como era relaxante! O dia todo na beira do rio, com iscas, anzóis, varas de bambu, mosquitos atormentando e outras peculiaridades de mato e margem de rio, cansava, era muito bom, mas cansava.

Era o tempo do meu banho “relaxante” terminar e minha mãe avisava que o arroz e o peixe estavam prontos, que poderíamos matar a nossa fome. E ela não exagerava, a fome era tanta, que digna de uma morte necessária ela era, e isso com um belo prato de arroz branco, refogado com cebola e alho, uma porção de lambari frito e um copázio de refrigerante bem gelado. Meu Deus! Só de lembrar me dá água na boca, parece que sinto aquele cheiro, como era bom...tão simples, nem mesmo era preciso outro acompanhamento, tal como feijão, salada ou qualquer outra coisa, apenas o arroz, o lambari e o refrigerante, mais nada. Não era só pela fome que era tão bom, era pelo conjunto, todos nós unidos, um conjunto, uma família! Um sabor único, um tempero inigualável. Tempo bom que não volta mais, e que dá muita saudade. Era tudo tão simples, mas tão gostoso.

Já dizia o filósofo que difícil é fazer o “simples”, mas que o simples é bom e muito prazeroso, quando diz respeito à vida, isso é verdade. Basta que se faça uma introspecção, e verás que as maiores saudades estão naqueles momentos simples da vida, naquela situação que é difícil repetir. E se tivéssemos como saber que tais situações não durariam para sempre, com toda certeza daríamos mais valor, aproveitaríamos mais. Mas só aprendemos isso com o tempo, com a experiência adquirida por conta própria, não tem como emprestar, comprar ou vender experiência de vida, no sentido de se adquirir a devida valoração dos fatos em nossas vidas. Certas coisas só com o tempo, não tem jeito. Talvez ai esteja a grande arte da vida: aprender. Com o aprendizado vem a devida valorização.

Saudade! Bom demais!

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Fabio Diaz Mendes
Enviado por Fabio Diaz Mendes em 28/09/2010
Reeditado em 16/02/2011
Código do texto: T2524738
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