Duas Vidas, um Destino - 10ª Vida, Dor

10ª Vida – dor

“Perder uma pessoa querida sempre nos faz pensar demais, o que nos faz sermos humanos.

Superar essa perda faz com nos tornemos mais fortes o que ainda nos torna humanos.

Dessa forma, quando saberemos qual o limiar entre ser ou não ser humano?

Teríamos nós a sanidade para aceitar essa verdade? E então, o que seríamos?”

De volta ao tempo atual, Setsuna acorda ao sentir os primeiros raios solares que adentram a floresta onde eles estavam. Com os seus sentidos ainda despertando, ele recomeça a sentir o odor da fumaça que tomou conta de parte da mata onde eles caíram e de repente as lembranças do incidente retornam numa enxurrada de informações como se alguém estivesse literalmente empurrando-as na mente dele contra a sua vontade. Ele revê o sacrifício de Ino, a disputa na autoestrada, a queda com o carro na ribanceira, sua última visão de Katsu ao despencarem e por fim ele vislumbra o rosto de Harumi em meio ao negrume da noite iluminado pelas labaredas da mata bem próximo do seu para então, se recordar do fim da noite anterior, fazendo com que ele se erga de supetão:

-Harumi!

-...hmmmm... – Harumi aos poucos abre os olhos, após ouvir seu nome - ahn...b-bom dia...?!? Err, Setsuna??

-Sim?

-Eu entendo sei que nos empolgamos na noite passada, mas isto é meio... constrangedor, ainda que não tenha ninguém nos vendo.

Só então Setsuna nota ter se erguido, usando como apoio para uma de suas mãos o seio dela.

-Ah!! Desculpa, desculpa, foi sem querer...

-Tudo bem. Esqueça. Deixe eu me levantar... argh!!

-O que foi...! – nesse instante ele nota que a pele debaixo de suas costelas está com uma mancha avermelhada com pontos arroxeados.

-Não foi nada. Devo ter quebrado uma ou duas costelas. Nada de mais. Nós temos que prosseguir em frente... ungh! Não podemos deixar o sacrifício deles ser em vão.

-Receio que infelizmente vocês não consigam chegar ao seu destino no fim das contas. – diz uma voz com uma tonalidade de uma criança, o que faz os dois perceberem estar diante de uma bela menina de cabelos ruivos batendo na altura dos ombros, olhos cor de âmbar que lhe dá um ar imponente, contrastando com sua aparência de idade, trajando um belo vestido salmão com uma abertura oval que abrange desde o diafragma até pouco abaixo do umbigo, a parte superior com um tomara-que-caia com detalhes desenhados que mais parecem línguas de fogo cobrindo seus pequenos seios ainda por desabrocharem, sustentada por duas mangas compridas saídas de suas axilas, terminando em bordados dignos de roupas do século XVII, porém, com um visual mais contemporâneo e terminando na parte inferior numa saia mais curta na frente e alongando conforme vai indo para a parte de trás do corpo e calçando uma sapatilha da mesma cor também rica em detalhes talhados no couro suave.

-Mas, quem é você? – indaga Setsuna ainda em sua forma adolescente – E porque tentaria nos impedir?

-Cuidado Setsuna, - sussurra Harumi ao seu ouvido - ela não parece ser uma pessoa norm-...

-Claro que não Harumi. – interrompe a jovem – Eu estou aqui para terminar o que aquela inútil da Zero não conseguiu. E o fazer com que você pague traidora, com seu sangue. – dizendo isso, a jovem dá um passo bem à frente, inclinando seu corpo e cravando seus dedos no chão, ergue seu rosto ameaçadoramente para os dois, para em seguida, se lançar num salto giratório literalmente voando, surpreendendo Setsuna e Harumi que sem ação se veem sendo atingidos por ela, os dois pés acertando o ombro e o abdômen de Harumi, fazendo-a girar no ar, enquanto expele sangue da boca junto a um gemido de dor devido as suas costelas, e pegando Setsuna pelo pescoço e o lançando de encontro ao corpo que ainda de Harumi que ainda caía, quando de repente, o mesmo usando de suas pernas, se apoia no chão pelos lados da ex-adversária, e usando de seus braços, segura-a por baixo das axilas arremessando-a longe, ao que ela gira no ar e aplicando um chute com as duas pernas atinge a árvore a qual iria atingir, se lançando para trás e pousando em segurança no solo, girando em seguida para se deparar com o outro Setsuna, que lhe lançava um olhar aguçado como o de um felino prestes a atacar sua presa.

“Obrigado Setsuna, se você não tivesse tomado o controle, nós provavelmente teríamos morrido aqui mesmo” – diz mentalmente o jovem Setsuna para o espadachim que agora controlava suas ações – “Heh! Vejo que agora, você consegue se manter consciente enquanto faço uso deste corpo! Muito bom, era o mínimo que eu esperaria de meu hospedeiro. Mas deixe os agradecimentos para depois de sairmos dessa enrascada!”

Setsuna dispara contra a jovem que os atacara, porém, a mesma se mantém imóvel e de olhos fechados.

“Estranho, ela vai me deixar atingi-la mesmo?”

Os metros vão sendo supridos enquanto ele se aproxima.

5 metros.

4 metros.

3 metros. “Se é o que você quer, não vai ter piedade, você tentou nos matar de qualquer forma.”

2 metros.

1 metro. Nesse instante Setsuna lança um golpe direto contra o rosto da jovem, que abre os olhos de súbito, arqueando de pernas abertas num espacate http://pt.wikipedia.org/wiki/Espacate fazendo o punho passar por sobre sua cabeça, ao que ela aplica um único e também direto soco, que atinge o ventre de Setsuna, o que lhe causa uma dor adicional devido a perfuração provocada pela espada de Ibuki no incidente do prédio de Katsu que ainda estava cicatrizando, lançando-o ao chão.

-Setsuna! – grita Harumi no chão ainda sentindo o ataque que também a debilitara.

A jovem e bela inimiga se aproxima calmamente de Setsuna, pisando violentamente seu abdômen e se aproveitando do reflexo involuntário de dor o agarra no pescoço, erguendo seu corpo do solo facilmente, ao que num acesso de adrenalina Setsuna tenta golpeá-la com o braço direito, no entanto, a garota com o seu outro braço apenas golpeia mais rápido no ombro também ferido de Setsuna inutilizando seu ataque enquanto começava a estrangulá-lo.

“Imp-possível!! Como ela já conhecia meus argh!, ferimentos? É como se ela tivesse lutado comigo antes, ou... ou...!!”

-I-...

-O que houve Setsuna? – indaga a garota vendo seu esforço que lhe parece inútil.

-I-bu-...

-Hã?!?

-IBUKI!!! – urra Setsuna por entre os dentes enquanto o sangue e o ar saem de sua boca e nariz. Seus olhos adquirem então uma aparência como os de um assassino frio e sedento por sangue que fazem a jovem relutar por um instante, tempo suficiente para que ele, usando de uma força descomunal, começa a torcer o braço dela que o esganava, usando de seu braço ferido ao que a jovem passa a sentir uma dor excruciante.

-ARGHHH!!! M-MEU BRA-B-BRAÇO!!! MALDITO!! EU VOU TE MATAR!!! – e mirando com seu outro braço, tenta aplicar um golpe letal em Setsuna, porém, num estalo e com alguns esguichos de sangue, Setsuna arranca seu braço esquerdo se separando finalmente de seu algoz.

-Arf, arf, mas que diabos... Você é outro ciborgue!!! – ao dizer isso, Setsuna aponta o antebraço partido que pingava sangue, além de soltar pequenas faíscas, de alguns fios que saíam de seu interior para a jovem que sangrava mais profusamente da extremidade de seu braço, o qual continha pequenas ramificações de fios conectadas a vasos e nervos.

-Quem... te construiu... garota? Foi Ibuki?... Ou Katsu? Onde eles est*

-Não diga o nome desse desgraçado do Katsu!! Eu esperava encontra-lo com vocês, pois eu pretendo acabar com a vida daquele que fez isso comigo.

-Como?!? O Katsu fez isso com você?

-Não é verdade! – grita uma voz vinda do meio da mata.

E eis que surge Katsu, andando com dificuldades, devido aos vários ferimentos em seu corpo provavelmente causados pela queda.

-Eu nunca lhe fiz nada menina! A única que eu criei, foi minha filha... Zero... – dizendo isso, lágrimas lhe vêm à face, limpando parte da fuligem e sangue que lhe cobrem o rosto.

-Zero. Zero! ZERO!! ZEROOOOOO!!!!!!! EU VOU DESTRUIR ZERO!!!!!!! ELA É A RAZÃO DA MINHA EXISTÊNCIA!! A CULPADA POR EU SER O QUE SOU!! E QUEM FEZ ISSO FOI VOCÊ, KATSU!

-Como? Espere. D-do que você está falando?

-Por sua causa, por causa do sucesso em suas pesquisas, pelo simples fato de você ter sido bem sucedido em criar um ciborgue que pensasse e agisse livremente, eu fui criada, ou melhor, fui modificada nesta, neste ser medonho que não tem a capacidade de crescer e ser uma pessoa adulta! De ter uma vida! Por sua causa eu serei uma ETERNA GAROTA de 13 anos de idade!!! E é por isso que eu tenho que mata-lo. E isso tudo só foi possível. Essa minha vingança só se tornou possível, por causa de Ibuki! – ao ouvir o nome dele Setsuna, Katsu e Harumi sentiram seus pelos se eriçarem e seus rancores aumentarem em relação a ele – Pois foi ele quem me falou de Zero, quem me disse que ela, e não eu era a melhor ciborgue. E que fora VOCÊ, quem tinha criado a tecnologia que nos fez o que somos. E por isso agora eu vou acabar com vocês!

Ao dizer isso, ela se prepara para avançar e quando de repente uma voz feminina com uma sonoridade quase divina os interrompe:

- Aqui não é nem a hora e nem o local apropriado para realizar essa luta. – ao dizer isso um dos galhos é afastado criando uma coluna de luz que clareia a clareira onde eles se encontravam, além de revelar um semblante de uma pessoa parada sobre um dos galhos – Todos vocês merecem uma chance de se recompor e de se preparar para a luta que se seguirá. Dessa forma, será melhor para todos, que estejam em plenas condições. Afinal, nenhum de vocês gostaria de ser derrotado só por que estão fracos e feridos, não é?

-Eu já ouvi essa voz antes. – diz Setsuna mais pra si mesmo do que para os outros.

Nesse instante, a luz se dissipa suavemente até se recolher num dos galhos das árvores.