Menino de rua.

Meu nome é Paulo. O pessoal aqui me chama de Paulinho. Tenho 8 anos. A maioria de vocês tem filhos, ou parentes desta idade. Então porque me olham assim? É minha aparência? Minha roupa suja e rasgada? Ou meu mau cheiro.

Eu não queria estar aqui. Mas meu pai e minha mãe não têm casa. Aliás, meu pai morreu baleado por um policial quando roubava uma casa. Ele não era uma pessoa ruim. Roubava por necessidade. Ele não era desempregado. Era inimpregável. Ou tu darias emprego a alguém que mora na rua, e cheira mal? Acho que não.

Minha mãe cuidava de uma “boca” que caiu. Está na cadeia agora.

Tu podes imaginar qual é o meu futuro?

Eu não peço muito. Olhe-me de forma diferente. Não quero que tenhas dó, mas não me maltrate. Esse dia passou por mim um homem elegante, com um espetinho de carne na mão. Nossa! Aquilo tinha um cheiro maravilhoso. Eu saboreava os pedaços de carne no mastigar dele. Ele se irritou e me xingou. Eu não fiz nada. Só estava olhando. Talvez ele já tenha passado fome um dia e sabia o que eu estava pensando naquele momento.

Água é mais fácil de conseguir. O difícil é água limpa ou fresca.

Outra briga é com o clima. No calor não há sombra que refresque. No frio os jornais não são o suficiente. Agora quando chove... Tu pedes a Deus para chover porque tu tens casa.

Por falar em Deus, tu já viste o céu hoje?

É engraçado... As estrelas que tu vê na companhia de alguém, são as estrelas que me fazem companhia de noite.

O céu azul e as nuvens brancas que tu acha lindo, me dá medo.

O céu não me espera. Eu nasci pré-destinado a ir para o inferno. Assustou-se? Caia na real. Tenho 8 anos, mas já furtei. E isso é pecado.

Ah tá! Tu vai me dizer que criança não vai paro o inferno... Mas eu vou crescer. Para ir ao céu eu teria que morrer. Mas sou covarde para tirar minha vida.

Tu achas mesmo que eu tenho futuro?

Sou diferente das crianças que tu vê nos shopping. Se até o futuro dessas crianças já é duvidoso...

Tu achas mesmo que alguém se importa comigo? Aposto que tu já passaste por mim varias vezes e nunca me viu.

Ou quando vê diz... Isso é coisa para o governo cuidar. Tu achas mesmo que cuida? Desde quando morador de rua vota? Eles te fazem acreditar nesse “cuidado” para continuar ganhando seu voto.

Por favor. Não me olhe com dó. Mas também não me olhe com desprezo. Olhe-me da mesma forma que tu olhas as criancinhas do shopping.

Não que isso vá me ajudar... Ninguém pode me ajudar. Eu sou milhões. Está entendendo agora?

Por onde tu passar, eu estarei lá. Mesmo com os passar dos anos. Talvez tu me encontres com 5, 8 ou 12 anos. Mas estarei lá.

Pense nisso e se põem ao meu lugar.

Não consegue?

E se fosse seu filho ou alguém de sua família...

........................Beijos no Coração de todos..............

Deivid Kutschenko
Enviado por Deivid Kutschenko em 27/09/2010
Reeditado em 15/01/2023
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