E na Globo News...

Lá estava o bom e velho Vandré. Um Vandré que evitou se tornar um rótulo de garrafa no engradado político da época. Difícil de ser encontrado e mais difícil ainda de ser entrevistado.

O entrevistador puxava assunto: como o senhor se sentiu quando perdeu o festival? Logo você quem disse que a vida não se resumia a festival? A sua vida não se sintetizou mesmo em festivais? Vandré cofiava mentalmente a barba. Na verdade ria mentalmente calado por educação, estava na cara, afinal tantos anos longe das máquinas de sucesso. A mesma máquina que ele evitou tanto e ainda ficaram com os Vts dele. Cortaram-no dos vts onde ele estava junto com o Chico e o Tom. Que fim teria levado a parte que ele falava as boas verdades ao público? Depois que graça elegante tem inventar música e ficar sem receber um centavo? “Como na internet!” deve ter pensado, mas permaneceu discreto. Era melhor curtir a aeronáutica, voar é mesmo uma incrível loucura.

Repórter: É verdade que você foi parar na casa da esposa de Guimarães Rosa antes de sair do Brasil? Dormiu com Diadorim antes de ir para o exílio? Depois quando retornou por acaso não tomou socos e pontapés? Hein? É verdade que fizeram você assinar uns papéis, dizendo aquelas coisas todas? Neste ponto Vandré sentiu vontade de dizer o que pensava sobre o depoimento, disse que não lembrava muito bem do caso passado. Não deixava duvida para repórter algum o quanto nestes casos era melhor assinar papel do que ser espingardeado, e disso ninguém duvida. Repórter perplexo: Você não é partidário de nada? Nunca levantou sequer uma bandeirinha partidária? Você abandonou o partido-alto? Gosta de reggae? Afinal retornou para o Brasil após a ditadura caminhando e cantando ou em disparada?

Bem mais tímido do que indiferente Vandré parecia rir por dentro. Havia perdido a carreira de funcionário público porque cantara em festivais enquanto hoje as pessoas perdem o serviço público porque andam nuas. Esperou anos para ser reintegrado as funções como se fossem os cantores criminosos anistiados. Era só o que faltava e esse o seu único exílio, sua inconformidade de cigarra sobre deslumbradas formigas tocandiras. Aliás, nunca fora contra os militares, pois um país precisa de suas forças armadas, desde que não se encontre perdida de armas na mão, atirando contra os transeuntes. Fadada mensagem para os idos de chumbo. Foram os sisudos de pouca musicalidade que não gostaram dele.

- Mas o senhor não gosta ba atualidade de aparecer nas rodas artísticas? Não gosta de subir ao palco com a alma cheirando a talco? Essas coisas. Acha que a Tropicália ia lhe fazer mal a saúde renal? A resposta veio simples, de homem comum, normal, sem bobagens forçadas de criatura em exílio ou essa de solidão forçada.

- Nunca me enfronhei muito com a classe artística...

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Antes um homem de gênio que gosta de música, larga o violão e vai trabalhar em outro ofício como muitos. Sem ficar mal com Deus.

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