Rascunhos de Um Pensar - Parte 09

Há então mais dois sentidos a serem negados (eu falei em seis porque inclui o pensar). O do “pensar” foi indiretamente jogado de lado quando brincamos de “pensar”. O pensar como forma concatenada de ideias e conceitos é o mais forte grilhão que nos segura num mundo único, não nos permitindo acreditar que existam infinitos mundos, ou, na verdade, nenhum propriamente dito. Tudo aquilo que percebermos e que não se encaixe nas engrenagens que inventamos ao longo da humanidade é primeiramente negado. Se a percepção insiste em nos perturbar passamos a encaixá-la nas engrenagens, modificamos um pouco nós mesmos para que tudo pareça natural. Mas em instante algum queremos perder este “contato” com a “realidade”.

Até brincamos de imaginar, de sonhar, de inventar. Mas salvo sonhos sem controle, todas as nossas brincadeiras estão tão enraizadas neste “mundo” que muitas vezes acordamos querendo mantê-las vivas, de tão reconfortante que é o sonhar.

Os delírios são caminhos errados de libertação, pois chegam a nós de forma confrontante, não nos ensinando nada, querendo nos mostrar uma outra “realidade” quando temos que entender que não há realidades, ou que há infinitas realidades e todas são válidas desde que entendamos que elas não são a essência e sim a aparência.

Então o que vem a ser a negação do pensar? É na verdade permitir que este tal de cérebro possa passear pelo Nada por conta própria. É, por exemplo, não esperar que tudo que sobe desce, não achar estranho que se possa estar em dois lugares ao mesmo tempo, não achar que dois mais sejam quatro ou qualquer outro resultado nem esperar que só porque um certo processo se repita seus resultados também se repetirão.

Pensar é criar. O Pensar do Nada é criar sem regras, sem limites, sem modelos. Nunca pensar em linhas retas ou mesmo em linhas tortas. O Pensar do Nada é pensar em ondas, como explosões, é saber tudo sem ter precisado aprender nada. Imagina uma pequena explosão de luz, sente ela se expandir em todas as direções, ir crescendo... agora tira dessa imagem qualquer sensação de tempo, de evolução ou crescimento. Essa “imagem” que te apresenta ao mesmo tempo todos os instantes de uma explosão, ela iniciando, ela te atingindo, ela passando dos limites, é o Pensar do Nada. Podes escolher um determinado estado da explosão, podes escolher todos.

É como ter sonhado, no sonho tido o poder de estar em qualquer lugar a qualquer instante, acordar, se lembrar do sonho mas não conseguir lembrar a sequência de lugares pelos quais passeou ao sonhar.

Isto é negar o Pensar.

George Wootton
Enviado por George Wootton em 26/09/2010
Código do texto: T2521425
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