MENTIRAS (necessárias?)

Otto von Bismarck, chanceler do Império Alemão, dizia que "as pessoas nunca mentem tanto quanto depois de uma caçada, durante uma guerra e antes de uma eleição".

O psicólogo norte-americano Gerald Jellison calcula que uma pessoa ouve uma mentira a cada cinco minutos, embora a maioria delas seja inofensiva. Em época de eleição a mentira se multiplica. E, durante o mandato, o representante do povo utiliza essa "arma" muitas vezes, para encobrir ou justificar seus atos e posições. "Um político de sucesso, com muitos anos de carreira, foi obrigado a aprender a mentir de um modo tão profissional diante das câmeras, que a imensa maioria das pessoas e mesmo os profissionais do comportamento humano não são capazes de detectar seus deslizes", disse para a Revista Veja, Paul Ekman, professor de psicologia da Universidade da Califórnia. Políticos são como atores. O ator deve convencer o público e a mentira é seu instrumento de trabalho. Porém, com os políticos, a mentira pode ser desastrosa para a estabilidade da democracia e o bem estar das instituições públicas.

Pode-se dizer que a mentira política nasceu com a democracia na Grécia antiga. Segundo Platão "...ela é permitida quando é proferida no interesse do Estado". Todas as grandes mentiras da história humana foram em função do interesse do Estado e do bem comum. Todo país tem mentiras oficiais enterradas em seu passado.

O ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger justifica a mentira dizendo que o estadista tem uma moral diferente do cidadão comum. Pôs em prática esta teoria quando Secretário de Estado do governo Nixon e a defendeu no seu ensaio "Diplomacy" ("A arte da diplomacia").

Os políticos são as pessoas que têm mais razões para mentir. Eles mentem para fugir de um castigo, para serem admirados, para manipular. Alguns exemplos:

_ Jader Barbalho, então presidente do Senado, mentiu aos colegas senadores, em 2001, sobre seu envolvimento em desfalques no Banpará, o que lhe custou o mandato.

_ A primeira-ministra Margaret Thatcher mentiu ao negar ter dado a ordem de afundamento do navio argentino em que 400 marinheiros morreram durante a Guerra das Malvinas, em 1982.

_ "Ganhei 13 vezes na loteria... sou autêntico brasileiro" João Alves de Almeida, um dos deputados cassados conhecidos como os "Anões do Orçamento", em 1993, explicando seu patrimônio milionário.

_ "A poupança é sagrada", Fernando Collor de Mello, durante sua campanha à presidência.

Bem, as eleições estão aí e todo o cuidado é pouco. A democracia é sempre desejada, mas exige capacidade e imparcialidade para a escolha de nossos representantes. Que cada um de nós exerça seu direito, da maneira que melhor entender. E que Deus ilumine nossa consciência na hora de escolhermos...

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"Estou pensando em criar um vergonhódromo para

políticos sem-vergonha que, ao verem a chance de chegar

ao poder, esquecem os compromissos com o povo"

(Leonel Brizola)

Fonte: Rev. Veja _ out/2002