1970

Iniciamos o último ano da década de sessenta nos mudando para a nossa casa, à rua do Araújo. Embora ela fosse inacabada, para nós era um palacete onde reinava o amor. Ali fomos muito felizes, graças a Deus. Não havia luz elétrica por ser um quarteirão novo e ficar distante do último poste da iluminação pública. Também não tínhamos água encanada, nem calça mento, nem esgoto. Apesar de estarmos na cidade, era como se morássemos no sítio.

Com recursos próprios, encanamos água até a nossa casa, após a autorização da prefeitura municipal e encetamos uma luta junto à Coelce para conseguir mos a ampliação da rede elétrica, a fim de que pudés semos ter energia. Foi difícil, mas conseguimos.

Enquanto eu assumia a vice-diretoria da Escola Joa quim Gomes Basílio, Raimundo estava sendo demitido da ASTEP, que havia terminado a obra de terraplana gem da BR 116, que seria asfaltada pela Queirós Gal vão.

Roberto completaria quatro anos em maio e resolve mos matriculá-lo na Escolinha João XXIII, que funcio nava na casa redonda, nas proximidades do Brejo Santo União Clube.

Este foi um ano de eleições e Raimundo conseguiu trabalho, como motorista, na campanha do Sr. Otacilio Alves, o que exigia que ele permanecesse muito tem po ausente de casa, apesar de eu estar grávida.

Tivemos a Copa do Mundo conquistando o tri-campeo nato e dando ao nosso povo sofrido pela seca deste ano, a alegria para compensar o sofrimento da fome. Foi o ano da consagração do Rei Pelé e da revelação do ídolo do Corinthians e, depois do Fluminen-se, o grande Rivelino.

Aos vinte e quatro dias do mês de outubro nasceu nossa filhinha Rosângela. No dia seguinte, Roberto, em companhia de Iêda Macêdo, diretora da Escola, trouxe toda a sua turma de coleguinhas para conhe cê-la. Ele estava felicíssimo, pois desejava muito ter uma irmãzinha.

Após a eleição, com a derrota do Sr. Otacilio Alves pe lo Sr. Juarez Leite Sampaio, Raimundo aceitou a pro posta de ir trabalhar no Maranhão, para o seu atual patrão. Ele permaneceu lá apenas um mês. A saudade da família, sobretudo da filhinha recém-nascida, o trou xe de volta.

Tivemos o natal com a família reunida em nossa casa, inclusive meus sogros, Expedito Leite e Alice Cruz, que apesar de morarem no sítio Pocinhos, nunca falta vam à Missa do Galo.

Apesar da seca e das dificuldades a vida era bela. Es távamos todos com saúde, e, como pessoas sensatas, não deveríamos nos afligir pelo que não tínhamos, mas  nos rejubilar com o que possuíamos.