DOURAMOS PÍLULA, SIM!!!

Sei que muitas vezes precisamos dourar pílula e viver de eufemismos, pois só desse jeito podemos continuar seguindo sem sentir as agruras que a vida nos oferece. Sonhamos com banquetes, contudo, nos contentamos com pão e café e uma boa margarina do circo. Trabalhamos arduamente e criamos os calos da sobrevivência, nem o salário nos dá alento, aliás, esse por sinal é aviltante. Tentamos educar nossos filhos da maneira mais correta e digna, todavia, com a educação que o estado oferece o que resta é torcer para que eles pelo menos aprendam o B A-BA e consigam assinar e não colocar o polegar, apenas, em sua carteira de cidadão.

Douramos pílula, sim! Enfeitamos as dificuldades com carnaval e futebol e, de quando em vez, um chamego na patroa para perpetuar a espécie. Tentamos nos realizar em nossos filhos e eles em seus filhos e, assim, as coisas seguem a rotina da espera. A espera de um emprego melhor, espera da casa própria, a espera, a espera, a esperança etc etc...

Percebo que uma boa maquiagem embeleza a dureza e a mazela cotidiana. Criamos fantasias e brincamos de viver. Brincamos, sim! Pois se levarmos a sério ela (a vida), talvez, nos percamos no primeiro atalho do desespero. A seriedade não cabe nessa hora e, nem tampouco, lutar contra essa situação desoladora. Não lutar não quer dizer se acovardar e nem ser indolente diante dela, seria apenas vesti-la com roupa de domingo para que, assim, sigamos e vivamos tal e qual a vida determina.

A gente vai levando a vida levando porradas e rasteiras, vamos dando a cara a tapa e abaixando, sempre, quando as bofetadas já estão ardendo na face. Estamos esperando o carnaval chegar, mas não para podermos reagir como o poeta cantou em seus versos e, sim, para pularmos na avenida da conformação.

Resumindo, estamos dourando pílula para que não haja um suicídio em massa; suicídio esse provocado se todos não usassem de eufemismos e fossem esclarecidos. Dourar pílula pode não acovardar, contudo, domestica nossos instintos.

MÁRIO PATERNOSTRO