Não acredito!
Meu filho estava viajando e minha nora tinha que trabalhar num evento importante naquela noite. Meu filho me ligou.
Mãe, você pode ficar com o João?
Claro, filho, a que horas preciso estar aí? Às 19 horas, está bom?
OK, mãe.Obrigado.
João é muito bom, um menino muito inteligente, não vai ser difícil ficar uma noite com ele, pensei.
Desmarquei com o meu namorado, peguei uma muda de roupa e uma hora depois estava adentrando o castelo do meu neto João, de 5 anos.
Minha nora saiu, recomendando-lhe que se portasse bem, para não dar muito trabalho à vovó.
Assim que a mãe saiu, ele disse: vamos fazer uma farra, vó?
Claro, querido, estou aqui pra isso mesmo - exclamei.
Primeiro fizemos guerra de almofadas, depois tomamos sorvete antes do jantar, coisa impossível quando os pais estão presentes, fizemos pipoca e cachorro quente e deixamos o jantar para o dia seguinte. Sei que não é certo, mas vocês acham que avó é para fazer as coisas certas? Nããããão! Avó é para fazer o neto feliz. No dia seguinte os pais consertam tudo.
Depois de algum tempo ele resolveu que ia me ensinar todos os jogos eletrônicos que tinha e me desafiou a competir com ele num jogo maluco em que os carros batem uns nos outros e quanto mais batiam mais ele se entusiasmava. É claro que ele ganhou todas as partidas.
Você é meio burrinha pra jogo, né, vó?
Tive que concordar. No meu tempo se jogava nente, bola de gude, jogo da velha, etc.
Logo ele se cansou e eu senti que ele estava ficando com sono, já que esfregava os olhos a cada momento. No entanto ele não entrega os pontos. Convidei-o a começar a desacelerar para podermos dormir. O moleque, no entanto, é cheio de energia, que nem eu, e foi difícil conseguir levá-lo para a cama.
Resolvi, então, contar-lhe uma história. Acho que é isso que, geralmente, as avós fazem.
Como já faz muito tempo que eu contei uma história infantil, eu apelei para a já batida história do Chapeuzinho Vermelho.
Comecei aquele blá-blá-blá todo ...Chapeuzinho foi levar doces para a vó, lá na floresta.
- Ela foi sozinha, vó? A mãe dela deixou, com toda essa violência?
Ah, querido, naquele tempo não tinha violência.
Mas, continuando....aí o lobo chegou e estava pronto para comer a vovozinha, quando...
- Você não disse que não tinha violência? E comer a vó dos outros não é violência?
É que os animais são irracionais, não pensam, só querem é matar a fome.
- Não tinha um McDonald’s por perto?
- A mãe dela bem que podia ter mandado os docinhos pelo SEDEX 10. O meu pai sempre faz isso. Eu vi na TV que chega rapidinho.
- Mas quando ela viu aquele lobão na frente dela por que a vó da Chapeuzinho não pegou o celular e ligou pra polícia?
Não, meu amor, naquele tempo não tinha celular.
Não acredito vó. Ela devia ter, mas não sabia usar, como o meu avô. Como é que se pode viver sem celular, vó?
- Então ela mandou um e-mail pro porteiro e ele veio correndo – disse ele.
Não, filho, é que não existia computador.
- Não acredito! Vó, essa história está muito boba. Conta uma do super-homem, do homem-aranha ou do Harry Potter
Como é que eu posso explicar-lhe que há pouco mais de 50 anos o primeiro computador apareceu ocupando uma sala inteira e, hoje, se manda mensagem, se joga, se assiste TV, se ouve rádio, se tira fotos , tudo por um aparelhinho tão minúsculo?
Edina Bravo