insônia

Faz duas horas que estou tentando dormir, desliguei o computador, a televisão, só não consegui desligar a minha mente. Enquanto eu pensava, concentrava na ideia de desligar a mente mais memórias vinham na minha cabeça. Uma hora eu já estava completamente soterrada entre a memória e fantasia. Já tinha me esquecido o que eu estava querendo fazer, que era simplesmente dormir.

Onde estou pensando em chegar com todos esses mirabolantes pensamentos? Espantei-me. Talvez eu poderia terminar de ler aquele livro que tento já faz uns dois anos. Busquei o livro na estante, o marcador de página continuava intacto ali. Olhei para capa, veio mais memórias, lembrei do dia que eu fui comprá-lo, faz uns dois anos. Era um dia como outro qualquer, eu provavelmente estava à toa e acendeu um desejo, desejo de comprar, desejo de comprar livros, resolvi que ia começar colecionar os livros da Virginia Woolf. Fui na cultura e acabei comprando quase todas as obras existentes na livraria. Depois disso eu emprestei uns para uma amiga, uns para uma outra amiga e acabei ficando só com esse que eu tento ler a mais de dois anos. Terminar de ler o livro não foi a escolha mais sensata para esvaziar mente, pois só me trouxe mais imagens do passado.

Liguei a tv novamente, sem querer coloquei em um canal que estava passando uma série de suspense, me assustei na hora e desliguei. Eu tenho um medo de infância, um medo de criança, tenho medo de monstros, hoje em dia encaro como espíritos... Esse papo está me causando arrepios. Bem, tenho medo de filmes, séries, qualquer coisa relacionado ao terror ou suspense. Uma amiga minha dizia sempre que isso é um medo de infância e que eu deveria superar, mas sinceramente, não consigo. Eu sei que por trás daquele assassino ou daquele monstro são câmeras, e que tudo não passa de um ficção para causar. Mas algo me puxa para o irreal, algo meramente inventado, dessa forma vou construindo as minhas crenças, excluindo a realidade como ela é mas a realidade que eu prefiro acreditar.

Tv não foi uma boa escolha também, então resolvi me masturbar, masturbar é algo incrível no sentido de que é algo cansativo e relaxa, por isso que pós sexo as pessoas querem descansar, na verdade não é porque elas querem, mas por ser simplesmente uma reação do corpo, organismo. Ultimamente estou me masturbando com muita frequência, estou me conhecendo literalmente. Mais, descobri que sou excelente na cama. De tanto fazer amor comigo mesma que aprendi realmente a me amar, a abandonar tudo aquilo que era fardo, tudo aquilo que me fazia triste, tudo aquilo que me causava náusea, tudo aquilo que me afastava de mim mesma. Depois de tantos anos de vida, agora aprendi a dizer não. O não tem o poder que muitos desconhecem, eu diria que é muito mais poderoso que o sim. O não é libertador, há algo melhor que a liberdade no mundo?!

Gozei duas vezes, não foi tãaao prazeroso como o habitual, pois de fato a minha cabeça está revirada, estou caçando em todas as gavetas para achar algo que ainda não posso nomeá-lo, parece que estou mergulhando no oceano para encontrar o mundo de baixo das águas, os meus sentidos estão à flor da pele, menos a audição, há muita pressão na água, estou ficando surda... Não consigo mais me ouvir, as lembranças estão me violando sem menor pudor agora. E eu só queria poder fechar os olho e desligar a mente. Eu tenho uma carta de amor guardado. Ali, sim é ali, dentro daquela caixa onde guardo cartas e cartões, senti-me instigada para lê-lo novamente. Aqui está a carta, essa carta de amor eu o recebi em 2006, de uma pessoa que na época era bem relevante para mim. Li e li de novo, comecei a rir, como pode?!! Essa pessoa é só um amigo não muito íntimo dentre de um monte. Só me lembro de ter guardado essa única carta, fiquei pouco frustrada agora, e também arrependida de não ter guardado as cartas de amor que recebi durante meus quarenta anos de vida. Sinto-me sozinha agora, sem passado passional, como se só um único homem passou pela minha vida amorosa. Tenho nas minhas mãos somente uma única carta, uma única prova. E se um dia eu tiver mal de alzheimer, eu não terei nenhuma recordação palpável para provar que um dia eu fui amada por muitos e não por um único ser.

Não, não é o único, pois acho que agora já encontrei aquilo que antes eu não conseguia nomeá-lo, é o Câncer, é ele que eu estava procurando, é ele que me causa insônia, é ele que me açoita e depois joga sal na ferida. É esse câncer que tantas vezes por ele eu passei pela quimio, tantas vezes que deixei de ser eu diante do espelho e dos outros. Mas que câncer maligno que de tempo em tempo ele volta a me atacar!

Eu sei o que é ter um câncer dentro de si, e deixar de viver por ele e ser destruída pouco a pouco toda matéria que me sustenta e ser por fim corroída o último sonho, a última esperança...

Giulia Mutz
Enviado por Giulia Mutz em 24/09/2010
Reeditado em 09/11/2010
Código do texto: T2517090